Polêmica estatística sobre os comentários da Associação Americana de Estatística a respeito do indicador “Valor p”
abr 11, 2016

Compartilhar

Assine o Oxigênio

Em meio à discussão a respeito de problemas de reprodutibilidade – isto é, à possibilidade de pesquisadores independentes obterem o mesmo resultado relatado em uma pesquisa científica; um indicador estatístico têm sido apontando como vilão por muitos: o valor-p. Agora, a Associação Americana de Estatística resolveu também pronunciar-se sobre a questão.

O valor-p indica a probabilidade com que resultados pelo menos tão extremos quanto os obtidos no experimento são esperados se a hipótese testada estiver correta. Mas muitas vezes é confundido com a probabilidade de a hipótese estar correta.

A confusão tem sido tão grande desde que o indicador foi desenvolvido na década de 20 do século passado pelo estatístico britânico Ronald Fisher, que em 2015 o periódico científico Basic and Applied Social Psychology resolveu simplesmente banir o uso do valor-p nos artigos.

A Associação Americana de Estatística também se pronunciou publicando em sua revista, a The American Statistician no começo de março, com um artigo em que lista seis princípios a respeito do valor-p para contribuir com a discussão.

O primeiro é que “o valor-p pode indicar o quão incompatível os dados são em relação a um modelo estatístico específico”. Frequentemente a hipótese testada assume que não há diferenças entre os grupos analisados ou que não há relação entre o fator estudado e os resultados obtidos. Quanto menor o valor-p, menor a compatibilidade estatística entre os dados e essa hipótese.

O segundo princípio diz que “o valor-p não mede a probabilidade de que a hipótese testada seja verdadeira nem a probabilidade de que os dados são frutos do mero acaso”.

Pelo terceiro princípio, as “Conclusões científicas ou decisões de negócios e de políticas públicas não devem se basear somente no fato de o valor-p atingir ou não um determinado valor”. Os pesquisadores devem trazer outros fatores como a descrição da metodologia, medidas de qualidade dos dados, evidências externas sobre o fenômeno estudado e a validade das pressuposições em que se baseiam a análise.

Segundo o quarto princípio: “a inferência apropriada requer transparência e relato completo”. Os pesquisadores devem relatar o número de hipóteses testadas durante a realização do estudo, todas as decisões a respeito da coleta de dados e análises estatísticas conduzidas, bem como os valores-p obtidos.

Quinto princípio: “O valor-p não mede o tamanho do efeito nem a importância de um resultado”. Significância estatística não é a mesma coisa que significância política, econômica ou social. Se a amostra for pequena ou as medições imprecisas, diferenças grandes entre grupos podem resultar em ausência de significância estatística.

O último princípio basicamente resume os anteriores: “o valor-p por si só não fornece uma boa evidência a respeito de um modelo ou hipótese”, concluem os autores, representantes da Associação Americana de Estatística.

Matéria de Roberto Takata e Simone Pallone.

Veja também

Descoberto planeta na órbita de Proxima Centauri

Descoberto planeta na órbita de Proxima Centauri

  Agosto mês do desgosto? Aparentemente não para os astrobiólogos que neste mês colecionaram descobertas e feitos notáveis. Você sabe o que é astrobiologia? É o campo que estuda a origem, a evolução e o destino da vida no Universo. Estuda-se, por exemplo, se há...

Período de avaliação de patentes pode cair de 11 para 4 anos

Período de avaliação de patentes pode cair de 11 para 4 anos

  O Instituto Nacional de Propriedade Industrial, INPI, não consegue analisar os pedidos de patente que recebe em tempo razoável, prejudicando o processo de inovação no país. Atualmente, esse tempo chega a onze anos e meio entre o depósito e a concessão ou...

Uso frequente de tênis de corrida altera a musculatura do pé

Uso frequente de tênis de corrida altera a musculatura do pé

Normalmente, os ossos da planta de nossos pés são arqueados para cima. Quando andamos e corremos, esse arco é achatado sob o nosso peso, acumulando energia como uma mola. Enquanto seguimos em frente, essa energia acumulada é liberada, ajudando a impulsionar o corpo...

A Lei Rouanet em debate

A Lei Rouanet em debate

O mês de fevereiro reascendeu um debate antigo sobre quais são os critérios de patrocínio à cultura, usados por meio da Lei Rouanet? Isso porque foi divulgada no dia 16 de fevereiro uma autorização no Diário Oficial da União para que a cantora Claudia Leite captasse...