A observação de aves é uma atividade que cresce no Brasil e vem ganhando cada vez mais adeptos. Com isso, as áreas naturais têm sido cada vez mais demandadas para a prática do birdwatching. Mas será que essa atividade traz mais benefícios ou causa mais impacto nessas áreas? Conversei com o ornitólogo Fábio Olmos, diretor da Permian Global, uma firma de investimentos dedicada à proteção e recuperação florestal e que atua com produção e venda de crédito de carbono.
Fábio Olmos – “As unidades de conservação são espaços onde as pessoas podem desenvolver várias atividades pra entrar em contato com a natureza. E aí a gente pode mencionar que tem toda uma série de benefícios ecológicos associados a isso, além do fato da visitação estimular a economia regional. Por exemplo, o serviço de parques americano, no ano passado, com um orçamento de três bilhões de dólares, movimentou uma economia global que somou trinta bilhões de dólares. O visitante ele não é só uma questão de pagar ingresso. Ele abastece o carro, ele vai no restaurante, ele fica no hotel, ele contrata guia, ele compra camiseta, ele precisa de souvenir etc. É isso que movimenta a economia. Tanto que em alguns países em que já estive, Espanha, França, você nem paga ingresso no parque. O parque é sustentado pela arrecadação que vem dos impostos que o turismo movimenta. Isso é uma coisa que aqui no Brasil não é muito percebida. Em vários países a observação de aves é recebida de braços abertos nos parques, ao contrário do que a gente vê por aqui. Ela é uma atividade que, ao meu entender, é claro que tem impacto. Qualquer pessoa andando numa trilha vai causar impacto. Os impactos na verdade são mínimos diante dos benefícios que gera pra própria unidade, não só em termos de visitação, mas a própria ciência cidadã que está associada a atividade, em muito suplanta qualquer impacto negativo que seja possível, além do fato de se estar construindo uma rede de apoio às unidades de conservação dentro da sociedade. É muito comum você ver lá fora, quando um parque está sob ameaça, os observadores de aves usuários daquela unidade de conservação se movimentam contra isso. Aqui em São Paulo a gente teve um evento, um fato muito interessante com relação à área do Tanquã, lá em Piracicaba, que deveria ser uma unidade de conservação, mas ainda não é, mas é muito frequentada por observadores de aves, que se movimentaram contra um projeto ali de se construir uma barragem que destruiria o lugar. Eu gostaria muito de ver esse tipo de coisa acontecer nas unidades de conservação aqui em São Paulo”.
O ornitólogo Alexsander Zamorano Antunes, do Instituto Florestal do Estado de São Paulo contou que até recentemente, havia um regramento muito rigoroso em relação à obtenção de imagens nas unidades de conservação, o que de certa forma desestimulava a visitação de observadores de aves, mas isso vem mudando. Contou também que o crescimento da atividade gerou um mercado, em que várias propriedades privadas que têm remanescentes de vegetação nativa ou que estão próximas de unidades de conservação estão explorando a atividade. Alexsander falou também sobre os possíveis impactos que a atividade pode causar nas unidades de conservação:
Alexsander Zamorano Antunes – “Esses potenciais impactos, no caso das unidades em si, eles têm a ver com técnicas pra atrair as aves para facilitar a observação e facilitar a obtenção de fotos ou gravação de áudio. E essa técnica mais utilizada é aquilo que chamam de recurso do playback. Você vai com uma gravação de vocalização da ave, um canto, um chamado da ave, ou você obtém aquela gravação do próprio canto e você reproduz com o intuito de atrair aquela ave e muitas espécies, principalmente no período reprodutivo vão interpretar aquele som que você está reproduzindo como sendo um invasor naquele território que ela tá defendendo. Então ela vai procurar atacar aquele invasor e retirá-lo daquele território. E com isso ela se expõe. Principalmente quando você tem um grupo grande que o guia tem o objetivo de que todos vejam aquela ave, então ele fica repetindo a gravação até todos verem. Então isso aí é um fator de estrese pra ave, que expõe ela à predação. Se a ave tá com ninho ela pode abandonar aquele ninho. Se você tem uma espécie naturalmente rara, que é essa que todo mundo quer fotografar e ver, você pode ter um impacto populacional nessa espécie. Mas por outro lado pode ocorrer, dependendo da espécie, que ela se habitue com aquela gravação então ela não vai mais se expor. Então os outros observadores de aves que virem depois não vão mais ter acesso a observarem aquela ave. Mas esses aí são casos pontuais que tem que ser monitorados pelos gestores das unidades pra ver se a atividade está causando esse impacto. Dois instrumentos que a gente tem pra minimizar esses impactos sobre essas atividades legais que devem ser apoiadas nas unidades de conservação são o zoneamento da unidade, então você tem áreas que você vai permitir aquele uso e outras áreas não, porque elas têm maior fragilidade, e o monitoramento, então você ter áreas que você permite o uso da população, mas com um guia acompanhando pra tentar conscientizar as pessoas dos impactos que elas podem causar”.
Você também pode contribuir para a conservação das áreas naturais praticando o birdwatching. Quanto mais as áreas naturais são visitadas, menor o risco de impactos como caça e extração ilegal. Pegue uma câmera fotográfica, um binóculo e saia pra passarinhar.
Matéria e locução de Paulo Muzio.