O livro ‘Raízes do Brasil’ celebra 80 anos
ago 19, 2016

Compartilhar

Assine o Oxigênio

Há 80 anos, o Brasil vivia a decadência da elite do café e a ascensão da burguesia industrial. A perspectiva era de urbanização crescente. Nesse contexto surge a primeira edição de Raízes do Brasil, livro de Sérgio Buarque de Holanda, uma das principais referências na análise da origem do povo brasileiro e na reflexão sobre todos os “Brasis” que nós somos.

As oito décadas da obra são celebradas este ano com o lançamento da edição crítica de Raízes do Brasil, pela Companhia das Letras.

Holanda era bacharel em direito, crítico literário e jornalista. Nesse ensaio historiográfico, ele trouxe não só elementos para a compreensão da nossa gênese, como também para pensar aquele momento vivido pelo país. O Brasil se equilibrava entre a direita e a esquerda autoritária de Getúlio Vargas. Holanda se diferenciou ao defender uma saída democrática para a nação. O autor havia passado uma temporada de dois anos na Alemanha, em missão jornalística, e ao retornar, escreveu um artigo para a revista Espelho, segundo conta em documentário Maria Amélia Buarque de Holanda. Além de esposa ela foi uma colaboradora intelectual durante toda a vida dele. As ideias iniciais do artigo resultaram no livro Raízes do Brasil, publicado em 1936 pela editora José Olympio, que inaugurou então uma série de publicações sobre o Brasil, sob a direção do sociólogo Gilberto Freire. Holanda não considerava Raízes do Brasil sua obra mais importante. O cantor e compositor Chico Buarque, filho do historiador, também contou em documentário que o pai preferia Visão do Paraíso, texto que resultou da tese defendida para a cátedra de História da Civilização Brasileira na Universidade de São Paulo, onde o professor ingressou em 1956.

Carregando polêmicas, mas trazendo também uma defesa da democracia que era novidade naquele contexto, Raízes do Brasil constituiu uma história própria ao longo dos anos e tornou-se uma obra atemporal. Foi traduzida para o italiano, espanhol, japonês, alemão e francês. Tem sido até hoje tema de discussões literárias e estudos acadêmicos especialmente o conceito de “homem cordial” usado por Holanda. Para o historiador, essa visão conforma nossa cultura personalista, que é uma herança do meio rural e da influência ibérica. Essa cordialidade dá maior importância aos relacionamentos pessoais que às normas sociais, a emoção sobre a razão, tratando a coisa pública como privada, por exemplo. À medida que o Brasil se urbanizasse, a cultura da cordialidade seria apagada, na visão do autor.

A edição comemorativa deste ano esmiúça a história dessa obra, sendo rica em notas e trazendo nove prefácios. Além disso, mostra também o trabalho de revisões feitas por Sérgio Buarque nas três décadas seguintes à primeira edição. O texto deste ano é o último aprovado pelo autor em vida, da quinta edição de 1969. A publicação deste ano tem ainda uma atualização ortográfica e um caderno de imagens que mostra inclusive como o autor alterava ou cortava trechos, reescrevia à mão ou batia à máquina colando parágrafos nos trechos que deveriam ser modificados. Os organizadores são Lilia Moritz Schwarcz, professora da USP e da Universidade de Princeton e Pedro Meira Monteiro, também professor universidade norte-americana. Além de ler edição crítica, a dica para quem quiser conhecer mais sobre Raízes do Brasil e Sergio Buarque de Holanda é visitar o acervo pessoal do autor que está aberto ao público na Biblioteca Central da Unicamp. Lá tem inclusive a máquina de escrever usada por Holanda.

Confira também:

Raízes do Brasil: o filme – parte I, parte II
As questões antagônicas de Raízes do Brasil. Entrevista com Sílvia Helena Zanirato e Edilaine Custódio Ferreira

Coleção Sérgio Buarque de Holanda na Unicamp

Atuação de Sérgio Buarque de Holanda na USP

Matéria de Patrícia Santos.

Veja também

Estação Espacial Internacional completa 15 anos

Estação Espacial Internacional completa 15 anos

  Ocupação humana na Estação Espacial Internacional completa 15 anos. No dia 2 de novembro de 2000, a primeira tripulação chamada de Expedition One, com dois astronautas russos e um americano, chega à ISS, a Estação Espacial Internacional. A ISS dá 16 voltas na...

Surgimento dos primeiros periódicos científicos

Surgimento dos primeiros periódicos científicos

  A publicação de artigos nas revistas científicas, assim como a leitura desses artigos se tornou rotina na vida acadêmica, e ambas são usadas também para medir a produtividade dos pesquisadores. Mas você sabe como surgiram essas revistas? Nesta matéria, Kátia...

70 anos da bomba atômica

70 anos da bomba atômica

Oxigênio · Arquivo da Ciência - 70 anos da bomba atômica Eram 8h15 da manhã no dia 06 de agosto de 1945, quando a bomba de urânio, “Little Boy”, foi lançada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos em Hiroshima, no Japão. Três dias depois, a bomba nuclear de plutônio,...

D. Pedro II e a invenção do telefone

D. Pedro II e a invenção do telefone

Oxigênio · Arquivo da Ciência - D. Pedro II e a invenção do telefone Você sabia que a invenção do telefone contou com um empurrãozinho do imperador dom Pedro II para emplacar? Tudo aconteceu em junho de 1876, na grande exposição internacional que comemorava o...

Os 90 anos do ‘Julgamento do Macaco’

Os 90 anos do ‘Julgamento do Macaco’

Oxigênio · Arquivo da Ciência - Os 90 anos do 'Julgamento do Macaco' Há noventa anos ocorria, na pequena cidade americana de Dayton, o julgamento do Estado de Tennessee contra John Thomas Scopes. Processo que ficou mais conhecido como o Julgamento do Macaco...

Conheça a história das reuniões da SBPC

Conheça a história das reuniões da SBPC

Oxigênio · 06 Arquivo da Ciência - Conheça a história das reuniões da SBPC Neste mês a SBPC, Sociedade Brasileira Para O Progresso da Ciência, realiza a sua 67ª reunião anual. O encontro será no campus da Universidade Federal de São Carlos, a UFSCar e terá como tema...