#145 – Ocupação da cidade para o bem-estar
jun 2, 2022

Compartilhar

Assine o Oxigênio

Ocupar os espaços públicos é importante para garantir sua manutenção, segurança e melhorias. Fazer atividade física é fundamental para manter a saúde. Para algumas condições crônicas, como o diabetes, a prática de exercícios é ainda mais relevante. Então, juntar as duas coisas, ou seja, praticar atividade física visando a prevenção ou o tratamento do diabetes ao mesmo tempo em que se ocupa a cidade é o que fazem os entrevistados deste episódio. As jornalistas Ludimila Honorato e Letícia Naísa, alunas do curso de Especialização em Jornalismo Científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp , apresentam o episódio, que foi produzido por elas e editado por Richard Paião, aluno bolsista do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE).

Roteiro

Emerson Bisan: A Cidade Universitária é uma carta na manga e, para quem pratica esporte, aqui é a nossa praia.

Letícia Naísa: Esse é o Emerson Bisan, maratonista e preparador físico. Ele tá meio ofegante porque, enquanto ele falava comigo, ele corria pelas ruas da Universidade de São Paulo, a USP. É por isso que você vai ouvir, ao longo desse episódio, barulhos de carros e de pessoas conversando. E claro que, pra gravar essa conversa com o Emerson, eu precisei correr com ele.

Ludimila Honorato: Opa! Pera aí! Correr não é bem a palavra certa, né, Le? Acho que você e eu estávamos mais para caminhar rápido [risos].

Letícia: Tá bom, Ludi, concordo, vai!

Bruno Helman: Tem essa dinâmica que é justamente a ideia de uma forma orgânica criar uma comunidade que utilize a atividade física, que utilize a ocupação do espaço público para uma vida mais ativa e mais saudável.

Ludimila: Esse é o Bruno Helman. Ele e o Emerson fazem parte do Instituto Correndo pelo Diabetes, que foi fundado pelo Bruno. O Instituto reúne uma comunidade de pessoas com diabetes que usa o espaço público para correr e caminhar, que são atividades que ajudam no tratamento da doença.

Letícia: No dia que a gente se conheceu, eles estavam organizando uma corrida na cidade universitária. Eram 8 horas da manhã de um sábado e o pessoal lá já tava animado, pronto pra correr. E a gente foi lá pra entender um pouco mais sobre essa ocupação do espaço público como um recurso pra saúde e pro bem-estar.

Eu sou Letícia Naísa.

Ludimila: E eu sou Ludimila Honorato. E você está ouvindo a estreia do Vida Com Saúde, um podcast desenvolvido para o curso de pós-graduação em Jornalismo Científico do Labjor, da Unicamp.

Letícia: A estrutura das cidades pode favorecer ou dificultar a promoção da saúde das pessoas que vivem nelas. Por exemplo: morar perto de um parque pode reduzir o risco de infarto do miocárdio, mas se expor constantemente à poluição do ar pode aumentar esse risco.

Um estudo feito por pesquisadores da USP analisou as relações entre o ambiente construído e a saúde coletiva. Eles avaliaram tópicos como: mobilidade e atividade física, ilhas urbanas de calor, conforto térmico e saneamento.

Todos eles são importantes e estão relacionados entre si, mas a gente vai citar aqui só alguns pontos que têm mais a ver com nossa discussão. Os pesquisadores mostram que, do ponto de vista da saúde, os carros são prejudiciais. Isso porque eles diminuem a atividade física, contribuem para o isolamento social e causam estresse pelas longas horas perdidas no trânsito. Além disso, acabam poluindo o ar e geram uma barulheira insana!

Ludimila: Ah, isso é verdade! Eu moro de frente pra uma avenida super movimentada [sons de carro em avenida] e é o dia todo com barulho de carros, motos, caminhões passando, buzinas, sirenes… Nossa, incomoda demais! E assim como os autores do estudo da USP contam, eu também sinto os efeitos de tudo isso: olhos ardendo, alergias, dor de cabeça. Sem contar que outros estudos indicam que se expor a altos níveis de poluentes, mesmo que por pouco tempo, aumenta a internação por doenças cardiovasculares e respiratórias.

Letícia: Cara, é muito problema, né?! Será que toda cidade é assim? Como que faz atividade física nessas condições?

Priscila Bezerra Gonçalves: Existem dois pontos principais a serem considerados pra que as pessoas usem mais o espaço público pra praticar atividade física.

Ludimila: Essa é Priscila Bezerra Gonçalves, professora de Educação Física e pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Atividade Física e Qualidade de Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a PUC PR.

Priscila Bezerra Gonçalves: Primeiro seria ter espaços adequados, e aqui incluo não só a existência de um parque ou praça na cidade. O fato de uma cidade não ter calçada, ou esta estar sem condições de uso já dificulta, por exemplo, o deslocamento das pessoas até um mercado, padaria, escola. E o segundo é a segurança. Não basta ter o espaço e a estrutura em si. Se as pessoas não se sentem seguras, elas não utilizarão aquele espaço.

Ludimila: Em 2018, a Priscila e outros dois pesquisadores da PUC PR publicaram o Ranking das Capitais Brasileiras Amigas da Atividade Física.

Priscila: A cidade amiga da atividade física possui uma estrutura que oportuniza as pessoas a serem mais ativas fisicamente. Isso inclui aspectos como um transporte público de qualidade, acessível, estrutura de lazer como parques, praças e também oferece um ambiente seguro pras pessoas saírem de suas casas, seja pra praticar uma atividade física ou pra se deslocar até um comércio próximo, caminhando ou pedalando. 

Ludimila: Os pesquisadores coletaram dados diversos e estabeleceram cinco indicadores para avaliar o quanto as cidades favorecem a prática de atividade física. São eles: acesso a espaços de lazer, acesso ao transporte público, desenho urbano, estrutura viária para atividade física e trânsito e criminalidade.

A Priscila conta que o estudo teve algumas limitações, sendo que a principal foi a indisponibilidade de dados para compor o ranking.

Priscila: Inicialmente, nós havíamos selecionado 23 indicadores, porém, foi possível incluir apenas 12. Os demais não foram incluídos por não estarem disponíveis pra todas as capitais ou não eram oriundos da mesma base de informação, o que permite ter uma comparabilidade dos métodos e dos resultados. Um exemplo é o IBGE que utiliza a mesma metodologia pra coletar as informações em todas as cidades no Brasil.

Ludimila: Mas com o que foi possível coletar de dados, os pesquisadores criaram uma pontuação para classificar as cidades. A capital mais amiga da atividade física foi São Paulo, seguida de Belo Horizonte, Vitória, Curitiba e Rio de Janeiro. Porém… São Paulo foi a cidade em que menos se pratica atividade física no lazer.

Letícia: Bom, em partes, faz sentido, né. A cidade de São Paulo não liderou todos aqueles cinco indicadores que você falou, então não adianta ter parques e ruas fechadas para uso dos pedestres se as pessoas têm medo de serem assaltadas ou não têm como chegar a esses lugares. O ideal é que houvesse políticas públicas em diferentes áreas para que as pessoas pudessem realmente usar os espaços públicos a favor do bem-estar.

Mas, apesar disso, ainda tem gente que encontra benefícios no espaço público.

É o caso do Emerson e do Bruno, que a gente conheceu no começo desse episódio, e também da Flávia Pisano.

Flávia Pisano: Durante a semana, por causa do trabalho, existe uma pracinha perto da minha casa, eu moro em frente ao metrô Conceição, tem uma pracinha, tem uma pista de 500 metros. É ali que eu corro.

Letícia: A Flávia foi diagnosticada com diabetes por volta dos quatro, cinco anos de idade. Hoje, aos 41 anos, ela caminha e corre em espaços públicos, e essa é uma das formas dela tratar a doença.

Flávia Pisano: E de final de semana, eu vou para o Ibirapuera ou venho aqui pro Bisan observar, ver o que que tem de errado, a minha pisada, como que é, se tá certo, se não tá, que agora a gente, o próximo desafio é meia maratona.

Letícia: Quando ela diz “venho aqui”, o “aqui” é a Cidade Universitária, onde ela se reuniu com uma turma do Instituto Correndo pelo Diabetes no mesmo dia que eu e a Ludi fomos conhecer o movimento. Era o primeiro encontro presencial deles depois que a pandemia ficou mais branda.

Flávia Pisano: Sempre na minha vida, durante muitos anos, eu incluí atividade física. No período de faculdade até a fase de adulta, vamos dizer assim, de começar a trabalhar, eu dei uma falhada e parei com a atividade física, mas aí eu retomei um pouquinho antes do Correndo. Eu descobri o Correndo na internet, comecei a seguir o Bruno e num evento eu acabei encontrando o Bruno. E aí eu falei para ele, cara, eu sou muito seu fã, eu queria muito participar do Correndo, eu não corro, eu não corria nem 100 metros, mas eu caminhava, aí eu falei para ele: eu quero participar, quero participar. Aí ele falou assim: tá, vamos ver isso, não sei o quê. Aí surgiu o projeto piloto, eu me inscrevi, ele insistiu muito. Eu falava não, não corro, não vou. Ele: não, se inscreve, se inscreve. E foi a melhor coisa que eu fiz.

Ludimila: E foi a melhor coisa mesmo! A Flávia contou que está junto ao Instituto Correndo pelo Diabetes desde setembro de 2020 e, há quase dois anos, o exame de hemoglobina glicada dela está ótimo! Esse exame mede o nível de açúcar no sangue e, para quem tem diabetes como ela, é arriscado demais manter um nível alto. Quem explica melhor sobre diabetes é o Vitor Painelli, mestre e doutor em Ciências pela USP e pesquisador nas áreas de treinamento físico, saúde e nutrição esportiva.

Vitor Painelli: De maneira geral o diabetes, ele é uma doença caracterizada pela hiperglicemia, né, uma condição em que você tem níveis de glicose ou açúcar no sangue acima dos padrões, acima dos níveis desejados ou almejados e isso gera uma série de repercussões possivelmente negativas no corpo, né. A depender do nível que se atinge, desde lesões em tecidos renais, na própria retina, cerebral e pode levar a convulsão e até morte.

Letícia: Nossa, é uma doença séria mesmo e pode levar a danos muito graves! Mas, quanto antes o diabetes for descoberto e quanto antes começar o tratamento adequado, melhor será a vida da pessoa. E a atividade física está muito relacionada a esse tratamento.

Vitor Painelli: A atividade física, a contração muscular resultante da atividade física é o tratamento de melhor custo-benefício desse público. Fisiologicamente falando, o que se sabe é que uma sessão de exercício físico consegue manter essa melhor captação de glicose pelos tecidos, em específico pelo músculo, por até 72 horas pós sessão. Então, você imagina, é como se fosse um remédio mesmo, o pessoal vai lá, faz a bateria de exercício hoje e por 48 a 72 horas depois, essa captação, essa regulação glicêmica, ela tá melhorada, ela tá otimizada. Por isso que hoje a recomendação de exercício físico para quem é diabético é que ele faça pelo menos umas três a quatro sessões de exercício na semana.

Ludimila: É isso que permite que a Flávia, mesmo com diabetes, tenha uma vida com mais saúde.

Flávia Pisano Foi dentro do Correndo que eu aprendi isso, a relação atividade física, insulina e alimentação.

Ludimila: A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e tem a função de levar a glicose, comumente chamada de açúcar, do sangue para dentro das células. A glicose é obtida por meio da alimentação e serve como fonte de energia para as células.

Flávia Pisano: O que faz eu estar quase dois anos vai com uma glicada maravilhosa e com o controle perdão com controle maravilhoso é atividade física. Muita gente diz que: ah não, o tratamento do diabetes não tá diretamente ligado à atividade física. Mas tá, no meu caso sim, e é a atividade física que faz eu ter os resultados que eu tenho, não só no diabetes, no geral.

Letícia: O mecanismo de ação da atividade física para quem tem diabete é incrível! O Vitor me explicou que, quando a insulina se liga às células do corpo, levando a glicose, faz com que um transportador que está dentro da fibra muscular vá para a membrana, ou seja, para a superfície, e pegue essa glicose. Mas como quem tem diabete sofre de ausência ou resistência à insulina, esse mecanismo não vai funcionar bem. Com isso, há um excesso de açúcar no sangue. Com o exercício físico, a contração muscular ativa esse transportador, sem necessidade de insulina, e todo o processo ocorre normalmente. Fantástico, né!

Ludimila: Uau! O corpo humano é muito inteligente, hein!

Letícia: É sim! Mas é bom lembrar que, por mais que a atividade física traga esse benefício, ela não é a única forma de tratamento. Cada pessoa com diabetes tem de avaliar junto ao seu médico qual o tratamento mais adequado, que pode incluir medicações e aplicação de insulina, por exemplo. Mexer o corpo vai potencializar os efeitos do que o médico recomendar! E outros benefícios gerais do exercício físico, que o Vitor comentou, são: reduzir a pressão arterial, o que pode ajudar na prevenção e no tratamento de hipertensão, aumentar os músculos, que contribui para quem tem problemas nas articulações, e ajudar no tratamento de quem sofre com ansiedade e depressão.

Ludimila: Nossa, com tanto benefício assim, vou sair fazendo um monte de exercício, incrementar minha rotina que já inclui academia, muay thai…

Letícia: Melhor ir com calma, Ludi. O Vitor disse que não é qualquer atividade física que traz benefícios para todas as condições de saúde. Exercícios de impacto, como corrida, não são recomendados para pessoas com problemas articulares, por exemplo, como nos joelhos ou na coluna. E você já me disse que sente dores na lombar quando faz alguma atividade, né. Olha só o que o Vitor falou.

Vitor Painelli: Para cada condição, você tem que ter um olhar específico e prescrever com base nas limitações da doença, nas características da doença e do indivíduo também, porque por vezes não vem só com a doença, ele vem com uma, duas, três, quatro condições juntas, né?

Ludimila: A Flávia está seguindo bem as orientações do treinador dela e tem praticado bastante. No final de março deste ano, além de completar 41 anos de idade, ela completou uma corrida de 14 quilômetros na primeira prova oficial dela. Uma vitória! E tudo isso é possível porque, felizmente, ela tem acesso a bons lugares públicos para praticar.

Flávia Pisano: A pracinha que eu corro, eles super mantêm, é excelente, tem muitos idosos, tem de tudo ali, e no Ibirapuera, né, gente?

Eu prefiro a rua porque eu não gosto de me sentir presa dentro de uma academia. Eu gosto de sentir o ar na cara, de ver as pessoas, de me sentir livre.

Letícia: Ah… Isso é bom demais mesmo. Mas, infelizmente, nem todo mundo tem esse privilégio e nem todo espaço público é adequado para fazer atividade física. Na própria cidade universitária da USP, onde fomos acompanhar a turma do Correndo pelo Diabetes, tinha umas calçadas irregulares, rachaduras no asfalto e uma disputa de espaço entre ciclistas, pedestres e corredores.

Emerson Bisan: Bike! Opa, desculpe. Nada…

Letícia: Nesse momento, o Emerson Bisan, que também é diretor de exercício físico do instituto, estava falando pra gente sobre as vantagens e desvantagens de correr em espaços públicos.

Emerson Bisan: A gente tem pouco espaço fechado para correr, para falar a verdade. A gente não tem disponibilidade de espaço.

Letícia: Ele diz que começou a correr em Mogi das Cruzes, onde morava, a cerca de 60 quilômetros da capital paulista, e que as condições de lá não são muito diferentes das que a gente encontra aqui na cidade de São Paulo.

Emerson Bisan: A gente não tem uma calçada boa para correr. Então, a gente disputa o espaço com os carros e isso é em qualquer lugar. Então, agora se tem valorizado ciclofaixa, se tem valorizado o espaço do corredor. A Cidade Universitária é uma carta na manga e para quem pratica esporte, aqui é a nossa praia.

Eu tenho visto uma melhora. Já tem valorização da adequação dos espaços, calçada com acessibilidade. Mas aí o que você falou: ainda falta muito para a gente ter um local seguro, onde a gente não dispute o espaço com os carros, um lugar sem riscos de cair. Quando a gente corre no parque, eles têm adequado, agora dentro do parque, a trilha para ficar mais segura, plana… muita gente caía de tropeçar em galho, em raiz de árvore.

Letícia: E o quanto o acesso ao espaço público facilita ou dificulta o acesso à corrida?

Emerson Bizan: Acho que é bem claro. Por exemplo, o Rio de Janeiro, que tem nas regiões que é próximo da praia, você consegue entender e vê uma população muito mais ativa. E quando você tem isso na porta da sua casa, é quase que parte da sua rotina você sair para sair, para fazer atividade. Então, quanto mais espaço tiver, quanto mais ações para ter incentivo, melhor.

Ludimila: Por vezes, essas ações de incentivo podem partir da própria sociedade, de grupos como o do Instituto Correndo pelo Diabetes. Aqui, voltamos a conversar com o Bruno Helman, que fundou o instituto. Na verdade, primeiro ele criou um projeto nas redes sociais que reunia pessoas com diabetes para participar de corridas de rua. 

Bruno Helman: Eu criei o Correndo pelo diabetes a partir da necessidade de promover um ambiente de inclusão e para mostrar para outras pessoas que vivem com diabetes como eu que não seria um diagnóstico que limitaria a vida delas.

Ludimila: Ele escolheu a corrida por incentivo do pai, que já era maratonista quando ele, o Bruno, recebeu o diagnóstico de diabetes aos 18 anos de idade. Com o tempo, o projeto cresceu.

Bruno Helman: E à medida que o projeto foi ganhando robustez, ganhando maturidade, a gente entendeu que era o momento de tornar o projeto numa organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com o objetivo de agregar cada vez mais pessoas e poder também chegar pra outras regiões além de São Paulo.

Ludimila: Isso de chegar a regiões além de São Paulo tem a ver com ocupar mais os espaços públicos, e é assim que o Bruno define a importância de estar em ruas e parques, praticando uma atividade que ajuda no tratamento dele e de tantas outras pessoas.

Bruno Helman: A ocupação do espaço público é fundamental pra gente garantir não só a sua manutenção, mas também a sua melhoria. A partir do momento que as pessoas se propõem a realizar uma atividade física em prol da saúde, mobilizando, conscientizando acerca de uma condição crônica que afeta milhões de brasileiros, a gente também tá mostrando que a gente existe, a gente também tá mostrando a relevância não só para falar sobre a condição, mas também da atividade física como prevenção e tratamento do diabetes. Então, ocupar esses espaços públicos é muito importante e o nosso grande sonho é que a gente consiga trazer capilaridade e ocupar esses espaços no maior número de municípios brasileiros e nas grandes capitais também, saindo dos grandes centros urbanos e chegando nas periferias.

Letícia: É incrível como os espaços públicos podem ser usados dessas formas, para engajar uma comunidade e servir de ambiente para a prática de atividade física. E também como a própria ocupação acaba chamando atenção para os problemas e servindo de manifestação em busca de melhorias.

Ludimila: Verdade! Mas a gente sabe que políticas públicas demoram a ser concretizadas, né! Mas também não dá pra esperar. Enquanto elas não existem, precisamos seguir usando e ocupando as ruas, os parques… Só tem que tomar cuidado com as vias irregulares, os buracos, porque qualquer tropeção pode ser grave!

Letícia: Sim, tem de tomar muito cuidado! E para quem vai praticar atividade física nos espaços públicos, o pesquisador Vitor Painelli tem algumas dicas. Além de verificar as condições do trajeto que a pessoa vai percorrer, como segurança, sinalização e infraestrutura, tem alguns cuidados para evitar uma piora do quadro de saúde da pessoa.

Vitor Painelli: Antes dela sair pra fazer uma atividade física, o que é interessantíssimo é que ela busque auxílio profissional primeiro, desde o médico até da área de educação física para checar de fato o que que ela pode fazer, se é que ela pode fazer. Eu sei que a busca por espaços públicos representa uma forma barata de atividade para muitas pessoas que ou não gostam de locais fechados, internos ou que não têm condições de pagar, custear esses lugares fechados. Mas ela tem que entender que precisa existir o investimento de tempo e até mesmo financeiro para saber a condição inicial dela, me refiro a uma avaliação médica para que esse indivíduo saiba exatamente o tipo de atividade que ele pode fazer.

Letícia: E essa busca por instrução médica pode ajudar a prevenir outras complicações.

Vitor Painelli: O médico é interessante porque na rua muitas vezes as pessoas buscam atividades de natureza aeróbia e pouca gente sabe a sua condição cardiovascular, né?

Essa falta de mapeamento das condições de saúde cardiovascular representa uma das maiores causas da morte súbita durante o exercício, só que esses indivíduos, os famosos corredores de fins de semana, eles não fazem nada a semana inteira, chega no sábado, eles querem exercitar pela semana e acabam se utilizando de intensidades de exercícios muito elevadas e o que vai acontecer com o coração nessa condição? Ele vai bombear e vai atuar de maneira extravagante, por assim dizer, que se a pessoa tem uma isquemia, que é um problema no fluxo sanguíneo, e uma arritmia, que é um problema na atividade elétrica do coração, ela tem um risco grande de sofrer uma morte súbita no momento da atividade.

Letícia: E na hora de, finalmente, ir pra rua, vale cuidar dos aparelhos e vestimentas que você está usando.

Vitor Painelli: Se a pessoa for pedalar, não sair comprando qualquer bicicleta. Que ela busque também um aconselhamento para o ciclo ergonômetro que ela vai utilizar.

Isso vale também para o calçado que você vai utilizar, não dá para sair correndo com qualquer calçado. Um calçado adequado também se faz importante para um bom amortecimento a cada passada da caminhada ou da corrida por vistas de amenizar essa carga externa que vai incidir sobre o aparelho locomotor.

Ludimila: Estamos chegando ao fim do primeiro episódio do Vida Com Saúde, um podcast feito para o curso de pós-graduação em Jornalismo Científico do Labjor, da Unicamp. Se você conhece uma pessoa que pode se interessar pelo tema que falamos hoje, compartilhe com ela!

Letícia: Eu, Letícia Naísa, e Ludimila Honorato fizemos a produção, reportagem, roteiro e apresentação desse episódio. A edição ficou por conta de Richard Paião. Até a próxima!

Veja também

#179 – Comida Frankenstein e a ética na ciência

#179 – Comida Frankenstein e a ética na ciência

Comida Frankenstein? Sim, esse termo, que remete a um dos monstros mais conhecidos da ficção científica, tem sido usado para tratar de comidas que usam organismos geneticamente modificados. Neste episódio tratamos sobre a ética científica e outras questões que envolvem esses produtos.

#174 – Um esqueleto incomoda muita gente

#174 – Um esqueleto incomoda muita gente

Novas descobertas sobre evolução humana sempre ganham as notícias e circulam rapidamente. Mas o processo de aceitação de novas evidências entre os cientistas pode demorar muito. Neste episódio, Pedro Belo e Mayra Trinca falam sobre paleoantropologia, área que pesquisa a evolução humana, e mostram porque ela é cheia de controvérsias e disputas.

# 171 – Adolescência – ep. 2

# 171 – Adolescência – ep. 2

Alerta de gatilho: Este episódio da série “Adolescência” trata de temas difíceis, como depressão, ansiedade, impulsividade e sentimentos ligados às relações familiares, entre eles conflitos entre pais e filhos e também como lidar com essas questões. Ao falar destes...

#169 – Depois que o fogo apaga – Parte 2

#169 – Depois que o fogo apaga – Parte 2

Seguimos falando sobre o processo de recuperação de museus e acervos que pegaram fogo no Brasil. Quais são as etapas até a reabertura? Quem participa desse processo? Ouça como está sendo o trabalho no laboratório da Unesp em Rio Claro, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

#168 – Depois que o fogo apaga 

#168 – Depois que o fogo apaga 

Incêndios como os que ocorreram no Laboratório de Biociências da Unesp de Rio Claro, no Museu Nacional e no Museu da Língua Portuguesa causam a perda de material valioso de pesquisa e de espaços de trabalho e convivência; e como é o processo de reconstituição dos lugares e dos acervos?