#104 – Temático: Cientistas e filhos em tempos pandêmicos
out 21, 2020

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Neste #DiadoPodcast, o Oxigênio traz um novo episódio, que trata da nova rotina que mulheres, que além de cientistas são mães, tiveram que adotar no período de isolamento social por causa da Covid-19. Para tratar do tema, recorremos às cientistas que atuam nos Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp, que são ligados à Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa, a Cocen. O aumento da carga de atividades com os filhos e tarefas de casa  têm afetado a produção científica dessas mulheres. Embora homens com filhos também manifestem um impacto negativo para suas carreiras neste momento, o que estudos na área de gênero indicam é que as mulheres são as mais sobrecarregadas. As entrevistadas foram as pesquisadoras Alline Tribst, Ana Carolina Maciel, Germana Barata e Priscila Coltri; a professora Guita Debert e os pesquisadores Leonardo Abdala Elias e Manuel Falleiros.

O episódio foi produzido pela Bianca Bosso e pela Beatriz Oretti, com a supervisão de Simone Pallone e Ana Carolina Maciel. A edição foi de Octávio Augusto, da Rádio Unicamp e de Gustavo Campos, do Labjor.

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Roteiro

PRISCILA: Eu fechei a porta aqui e tô num quarto, espero que nenhuma criança atrapalhe e que dê tudo certo.

BIANCA: A paralisação das atividades acadêmicas e escolares presenciais, determinada em virtude da pandemia de covid-19 impôs uma nova rotina às pesquisadoras que são mães.

BEATRIZ: Se antes era possível separar temporal e espacialmente os afazeres profissionais e o cuidado com a casa e os filhos, hoje essas tarefas se misturaram.

BIANCA: Nessa nova realidade, o espaço do trabalho dos pais se mescla com a escola e o lugar de recreação dos filhos / e ao mesmo tempo se tenta dividir o dia para a realização de mil tarefas. O resultado é uma diminuição na produtividade acadêmica, que já foi relatada em estudos realizados durante a pandemia. 

BEATRIZ: O Movimento Parent in Science, que trata das consequências da chegada dos filhos na carreira científica de mulheres e homens, fez um levantamento nos meses de abril e maio, pra ver o impacto do isolamento social por causa da Covid. O levantamento revelou que as mães são as principais afetadas. Enquanto sessenta e cinco por cento dos pais entrevistados conseguiram submeter artigos científicos como planejado, esse número caiu para quarenta e sete por cento das mães. Vamos deixar o link para a pesquisa no site.

BIANCA: Eu sou Bianca Bosso, bióloga e divulgadora de ciências

BEATRIZ: Eu sou Beatriz Oretti estudante de jornalismo, e esse é o episódio número 104 do podcast Oxigênio.

Vinheta do Oxigênio

BIANCA: Para analisar o efeito do isolamento social entre pais e mães acadêmicos, realizamos um levantamento de dados com pesquisadores da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp, a Cocen.

BEATRIZ: Ao todo, obtivemos vinte e oito respostas e pudemos perceber algo em comum entre os entrevistados.

BIANCA: Agora, além das atividades de ensino, pesquisa e extensão, as mães pesquisadoras têm de lidar ao mesmo tempo com as demandas do lar e das crianças.

BEATRIZ: A Priscila Coltri, pesquisadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura, o CEPAGRI, conta um pouco sobre os desafios de conciliar a criação dos dois filhos, de quatro e seis anos, com o trabalho acadêmico em home office e os serviços domésticos.

 PRISCILA: O que é mais difícil é isso, é ter que fazer tudo ao mesmo tempo. A minha funcionária que limpava a casa e fazia almoço e janta estava grávida, então ela teve que ser afastada porque era do grupo de risco. A moça que olhava as crianças à tarde também não foi mais. Então eu fiquei sem nenhum suporte pra casa. Aí eu comecei a trabalhar de casa me dividindo entre todas as coisas que eu tinha que fazer em casa, ou seja, almoço, janta, limpar a casa, lavar roupa e tudo mais, o trabalho home office, né, que é reuniões e a escola das crianças.

BIANCA: A rotina da pesquisadora precisou ser adaptada a essa nova demanda. Parte do seu dia, que antes era dedicado exclusivamente à pesquisa, agora precisa ser dividido entre as inúmeras tarefas do lar.

PRISCILA: Eu mudei um pouco meu horário de trabalho: eu deixei as minhas manhãs para dar suporte a eles na escola, principalmente pra minha filha mais velha que está em fase de alfabetização. Nesse meio tempo que eles estão tendo aula e fazendo atividade e tudo mais, eu vou respondendo alguns alunos e algumas coisas rápidas por email ou mesmo por mensagens, eu lavo uma louça, eu penso no que vai ter de almoço e varro a casa, enfim. Então tudo isso acontece nas minhas manhãs. Dou almoço pra eles por volta de 12h, 12h30 e depois que acaba isso eu começo a fazer o meu trabalho, que vai até 6 e pouco da noite. 

E por eles serem crianças eu tenho que estar sempre de olho neles, então assim, se eu pisco o olho, vira um móvel, vira um sofá, pega um doce na dispensa (mas assim, não um doce, muitos doces né), então, mesmo trabalhando, eu tenho que estar vigiando os dois. 

BEATRIZ: Se concentrar para a escrita de um artigo ou participar de uma reunião ao mesmo tempo em que supre as necessidades dos filhos é um desafio enfrentado diariamente pela Priscila.

 PRISCILA: Eles brigam entre eles e eu tenho que entrar no meio e separar, eles precisam de ajuda nas coisas básicas, no almoço, no lanche, na janta, no banho, quando faz xixi tem que limpar e assim vai, eles querem brincar, eles querem que eu pegue os brinquedos, eles querem que eu leia livrinhos, mas ao mesmo tempo toda hora eu estou fazendo alguma coisa, né, então isso é o que tem sido mais difícil pra mim.

BIANCA: Ana Carolina Maciel, pesquisadora do Centro de Memória da Unicamp, o CMU, e Coordenadora da Cocen, é mãe de uma adolescente de 16 anos e um menino de 9. Ela também assume que o desafio das mães pesquisadoras durante o isolamento social vai muito além de uma simples mudança de ambiente.

ANA CAROLINA: Por trás de uma rotina de trabalho tem uma rotina da casa funcionando ao mesmo tempo. É diferente você sair para trabalhar, você muda o chip, né, você sai desse ambiente e vai para Universidade, consegue se distanciar um pouco da lida doméstica e das preocupações da rotina das crianças. Enquanto que nós estamos trabalhando no mesmo ambiente que as crianças estão estudando, que as crianças estão com ócio com os intervalos do tempo de atividades da escola, sem ter para onde ir, sem ter o que fazer, então é claro que mais do que nunca as mães, no meu caso eu posso dizer isso, né, que nós temos que pensar em várias chaves ao mesmo tempo. Então de repente você tá numa reunião que demanda muita concentração, mas tem todo um funcionamento por trás dessas telas e nosso poder de concentração tem que ficar muito maior do que o normal e uma organização da casa muito estrita para que as coisas possam funcionar e o trabalho possa se desenvolver e a casa estar cuidada, comida na mesa… Então mais do que nunca a mulher tem que assumir muitos papéis, isso é inegável.

BEATRIZ: Germana Barata, pesquisadora do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade, o NUDECRI, também sente que sua rotina foi afetada pela dificuldade de equilibrar suas atribuições como pesquisadora e mãe de dois filhos, de 9 e 13 anos.

GERMANA: Fica muito tênue a nossa linha do que é trabalho e o que é vida particular. A gente acaba tendo mais coisas pra fazer do que normalmente. Às vezes a gente tem que correr dentro da própria casa porque tem reunião agendada ou tem webinar, etc, então tem sido mais difícil ter disciplina de dividir o que é tarefa do lar para tarefas profissionais.

Na pandemia tem me afetado essa questão dos tantos artigos que eu tenho na minha lista ainda pra publicar e que exigem realmente um mergulho em literatura, na escrita. Esse processo de escrita pra mim ele precisa pelo menos 3 horas assim mergulhada nas leituras, na reflexão e isso tem sido prejudicado por tantos acúmulos de tarefas.

BIANCA: Aline Tribst, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação, o NEPA, também sentiu que sua rotina e produtividade acadêmica foram impactadas pelo isolamento social.

ALINE: As minhas 8 horas úteis do dia, das 8h às 5h que antes eu basicamente dedicava à atividade de pesquisa eu tive que dividi-las um pouco com as atividades escolares da minha filha mais nova para acompanhamento e com algum cuidado diário com a casa. Envolve principalmente fazer tudo caber dentro do tempo. Envolve cuidar desses três eixos: casa, atividade escolar das crianças e o meu trabalho, isso eu tento espremer durante o dia mais ou menos do jeito que dá. A minha percepção é que tudo fica pior do que poderia ser, do que era antes, quando os tempos eram mais bem delimitados.

BEATRIZ:  Guita Debert, docente no Departamento de Antropologia da Unicamp, estuda questões de gênero e família e explicou ao Oxigênio que um terceiro turno foi acrescido à rotina de mães pesquisadoras durante a pandemia. 

BIANCA: Esse turno extra envolve acompanhar as aulas feitas online e as atividades de acompanhamento escolar das crianças. Assim, as mães passam também a assumir o papel de educadoras, além de não poderem contar com a ajuda de empregados domésticos e dos seus pais idosos que se transformaram num grupo de risco e em princípio deveriam estar isolados dos netos e filhos adultos. 

BEATRIZ: E será que esse terceiro turno impactou na produtividade acadêmica dessas pesquisadoras? 

BIANCA: A resposta é sim. Bom, pelo menos é o que indicam os relatos. A Germana estima que essas atribuições extras reduziram sua produtividade no trabalho em torno de 50%. A Aline também mencionou que o tempo dedicado à pesquisa caiu em torno de 30% em sua rotina. Isso pode afetar a carreira dessas pesquisadoras futuramente…

BEATRIZ: E como será que os pais pesquisadores foram afetados por essa nova realidade? 

BIANCA: Eu conversei com o Leonardo Abdala Elias, pesquisador e coordenador do Centro de Engenharia Biomédica, o CEB, que é pai e também se vê sobrecarregado com as atividades do lar e trabalho. Ele e a esposa são docentes e têm tentado estabelecer uma rotina organizada, mas com um filho de um ano e meio acabam tendo dificuldades.

LEONARDO: Esse cuidado com a casa e com a família que passou a ser prioridade máxima nesse momento e aí óbvio você tem que ter uma estruturação de horários. A agenda é bastante rigorosa para conseguir passar e conseguir atender a todas as demandas. Eu não tive muito assim uma lógica para essa organização, então em alguns momentos as coisas apertaram eu tive reuniões com o meu filho no colo. Então não foram momentos fáceis né.

BEATRIZ: Notei que todos os pesquisadores que conversamos precisaram aumentar o horário de trabalho e agora realizam pesquisas à noite, de madrugada e também aos fins de semana.

PRISCILA: Depois que eles dormem eu continuo trabalhando e trabalho também de sábado e domingo, porque aí eu compenso um pouco essas manhãs que eu tenho que ficar com os dois.

GERMANA: Muitas vezes eu tenho também que estender pra de noite, esse trabalho, né, estender esse horário pra conseguir dar conta de todas as coisas.

ALINE: Eu trabalho também à noite, no começo da noite, ou aos fins de semana pra tentar dar uma compensada na redução dessa minha jornada dedicada à pesquisa.

BEATRIZ: Essas foram a Priscila, a Germana e a Aline. 

BIANCA: Isso me lembrou de uma conversa que tive com outro pesquisador. Assim como o Leonardo, outros pais também têm participado da nova rotina de casa e filhos e vêem um impacto negativo em seu trabalho. Manuel Falleiros, pesquisador do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural, o CIDDIC, tem 2 filhos pequenos. Desde o início da pandemia, sua rotina, como a de todos, mudou. Com os filhos dentro de casa o tempo todo, exigindo cuidados, parte do seu trabalho é feito de madrugada.

MANUEL: Eu tenho, na medida do possível, dividido as tarefas e o trabalho né? Pois minha esposa também trabalha em casa e ela precisa de tempo para realizar as reuniões que são online e também o trabalho que precisa ser feito. Muito provavelmente se no meu caso eu deixasse a maior parte das tarefas né, que se eu não as realizasse eu certamente teria mais tempo para as minhas tarefas de trabalho e conseguiria realizar todas a tempo. O que não está acontecendo, sem a dificuldade e o preço de trabalhar de madrugada e não poder contar com descanso.

BEATRIZ: Para quem tem filhos pequenos como a Priscila, o Manuel e o Leonardo, durante o isolamento os cuidados com as crianças norteiam a organização da rotina de trabalho.

LEONARDO: Nós em casa nós temos um filho de 1 ano e meio. Então o cuidado com ele foi assim essencialmente. Isso norteou toda nossa estruturação em casa, que era para cuidar do nosso filho e a gente acabou obviamente tendo um impacto nas atividades acadêmicas e profissionais, que tornou assim o dia a dia bastante difícil.

BIANCA: Na nossa conversa com a professora Guita Debert, ela explicou que há um ideal de divisão na realização do trabalho doméstico. Apesar disso, os dados das pesquisas mostram que mesmo que os homens estejam se dedicando mais às demandas de casa, ainda assim o tempo gasto pelas mulheres nessas tarefas é muito maior do que o dos homens.

BEATRIZ: Algumas das falas corroboram o apontamento da pesquisadora Guita: embora não seja uma queixa de Aline e Priscila, a rotina de trabalho de seus parceiros durante a pandemia não permite que eles dividam igualmente os cuidados do lar e com os filhos. Seja por terem continuado com o trabalho presencial ou por não conseguirem adaptar seus horários ao novo cenário.

BIANCA: Além disso,  há casos específicos em que funções não podem ser assumidas pelos parceiros, como a amamentação de crianças pequenas, por exemplo. 

 BEATRIZ: O conceito de que as mães devem assumir as responsabilidades pelos filhos e lar quase integralmente está enraizado em nossa sociedade e é reforçado por comportamentos que, à primeira vista, podem parecer inofensivos… O Leonardo tem um bom exemplo de como isso ocorre.

LEONARDO: O grupo da escola onde nosso filho ficou, eles o tempo todo falavam: “ah, as atividades que a mãe vai fazer com o filho…”, então até a própria sociedade acaba colocando isso. E a gente fala: “não, mas não é a mãe que vai fazer essa atividade, nós vamos fazer juntos!” Eu acho que a sociedade tem muito ainda essa visão da mulher com o cuidado da casa e com o cuidado dos filhos e o marido indo trabalhar fora de casa.

BIANCA: Priscila destaca que já existem grupos de pesquisa analisando a questão de gênero, maternidade e ciência, como o Parent in Science, que citamos no início do episódio.

PRISCILA: Existem algumas iniciativas muito legais, uma se chama por exemplo, Parent in Science, que discute a maternidade e a Ciência. E eu acho que tinha que ter mais iniciativas como essa. 

BEATRIZ: Esse movimento tem o objetivo de levantar a discussão sobre a maternidade e paternidade no universo acadêmico. O grupo promove ações de pesquisas, simpósios e debates trazendo a maternidade na carreira científica para o centro da conversa.

BIANCA: O grupo realizou um levantamento sobre a produtividade acadêmica durante o isolamento que revelou que somente 8% das mulheres estão conseguindo trabalhar remotamente. Quando analisamos separadamente mulheres com filhos e sem filhos, vemos que somente 4,1% das mulheres com filhos estão trabalhando normalmente enquanto 18,4% das mulheres sem filhos conseguiram manter sua rotina de trabalho. 

BEATRIZ: Já entre os homens a porcentagem é bem diferente. 14,9% dos homens com filhos conseguiram manter suas atividades remotamente, enquanto 25,6% dos homens sem filhos continuaram trabalhando normalmente no período de isolamento.

BIANCA: Para verificar se esses números correspondem à realidade dos pesquisadores dos Centros e Núcleos da Cocen, realizamos um levantamento online. Obtivemos 28 respostas, das quais 64,3% foram de mulheres. Isso revelou que 54,5% dos entrevistados com filhos admitem que houve diminuição em sua produtividade durante o período de isolamento. Além disso, 77,3% concordam que as medidas de isolamento social aumentaram sua carga de tarefas. 

BEATRIZ: Para esse mesmo dado, 66,7% dos pesquisadores sem filhos relatou que notou diminuição em sua produtividade, sendo que 50% deles notou aumento em sua carga de tarefas. Ou seja, apesar dos pesquisadores sem filhos relatarem diminuição em sua produtividade, o aumento na carga de tarefas não foi tão notável quanto para os que têm filhos.

BIANCA: Vemos que muitos pesquisadores foram afetados e tiveram suas rotinas mudadas de alguma forma. Decidimos perguntar a eles quais iniciativas poderiam ajudar pais e mães pesquisadores durante e mesmo após o isolamento. E eles nos apresentaram algumas propostas. 

BEATRIZ: Priscila destaca que antes de tudo, devemos buscar a eqüidade no ambiente de trabalho: 

PRISCILA: Eu acho que é muito importante a gente entender a diferença entre igualdade e equidade nesse sentido. Então, igualdade é dar condições iguais a homens e mulheres. Mas na maioria das vezes, na ciência, isso a gente já vê, homens e mulheres têm condições iguais de trabalho. O problema é que as mulheres têm muito mais coisas que elas levam nas costas do que os homens. Então, aí a gente não vê equidade entre os gêneros. As mulheres têm que cuidar dos filhos, levar na escola, ir na reunião da escola, fazer o lanche, fazer atividade, limpar a casa, cuidar da roupa e fazer tudo o que elas já fazem com a casa e com as escolas, mais o trabalho delas. E na maioria das vezes, o que eu vejo não só do meu lado, mas de outros também, é que isso não acontece no gênero masculino.

BIANCA: Leonardo e Aline concordam que o período de quarentena deve ser encarado de uma forma diferente pelas agências de fomento e instituições de ensino: 

LEONARDO: Eu acho que isso tem que ser visto com bastante tranquilidade pelas agências em prorrogar os tempos de entrega de relatórios, de não ter uma cobrança excessiva pela produção naquele momento. Porque eu acho que o cuidado principal é o cuidado dos filhos e da família ali naquele momento.

ALINE: É muito difícil de se cobrar qualquer coisa nesse momento de qualquer pessoa, seja mulher ou seja homem, então quem conseguiu se organizar ou manter uma produtividade, conheço pessoas que inclusive com o fato de estar isoladas em casa conseguem se concentrar mais, estão até mais produtivas do que estavam no ambiente acadêmico, então pra essas pessoas, ótimo, mas que não sejam penalizadas aquelas que pelos mais diversos motivos não conseguiram. 

BEATRIZ: Ana Carolina conta que apesar de ter encarado desafios inerentes à nova situação, foi uma dessas pessoas que conseguiu aproveitar o período para criar novos projetos. A pesquisadora e coordenadora da Cocen explica que além de continuar suas funções, criou um novo projeto durante o isolamento: o Memórias covid-19.

ANA CAROLINA: Bem, a pandemia acabou me inspirando a fazer um novo projeto de pesquisa. Eu tenho um temático na Fapesp e eu propus um subprojeto que se trata da plataforma memórias covid-19. Como eu trabalho com memória e com trajetórias de vida, logo no começo da pandemia eu achei que seria importante ter algum projeto ligado a isso e eu fui desenvolvendo esse projeto ao longo dos últimos meses.

BIANCA: A pesquisadora contou como funciona o projeto. 

ANA CAROLINA: É uma plataforma memórias covid-19, onde as pessoas podem compartilhar os seus relatos seus olhares sobre esses tempos de pandemia, não necessariamente que tenha adoecido ou que esteja conseguindo fazer isolamento, mas cada um de nós que tem uma vivência sobre isso uma interpretação desses tempos. Então as pessoas podem enviar fotografias, vídeos, textos, áudios é uma plataforma que aceita vários formatos e eu acho que é uma coisa muito importante que a gente vai delineando aí um arquivo memorial dessas vivências. Então em termos de pesquisa na verdade eu abri mais uma frente de trabalho não diminuiu a produtividade muito pelo contrário potencializei a minha produtividade para pensar e refletir esse momento causado pela pandemia.

BEATRIZ: Para saber mais sobre o projeto e enviar seu relato, você ouvinte pode acessar as redes sociais procurando por Memórias Covid-19.

BIANCA: No entanto, é importante relembrar que, por diversos motivos, isso não foi uma realidade experienciada por todas as mães pesquisadoras. Pensando nisso, a Germana sugere a adoção de algumas iniciativas que a Unicamp, outras universidades e as agências de fomento podem implementar para ajudar as mães cientistas após o isolamento social:

GERMANA: Talvez fosse interessante que as Universidades trouxessem rodas de conversa entre pesquisadoras, cientistas mães, com estudantes, homens e mulheres. Ter esse reconhecimento por exemplo no Lattes, com esse movimento de definir “olha, eu sou mãe, então, não é assim, “tenha pena de mim”, não é isso, mas é “considere que eu tenho tarefas gigantescas além do trabalho, né, o olhar não pode ser o mesmo de uma mulher sem filhos. Isso é algo que eu coloco e coloquei ao longo da minha trajetória nos relatórios pra Unicamp, pra mostrar minha produção, sempre lembrar as pessoas que estão me avaliando de que “olha, essa é toda a minha produção e eu tive dois filhos nesse percurso ou tive um filho nesse momento”, pra isso ser considerado.

BEATRIZ: Ana Carolina também traz uma reflexão sobre a condição das mulheres que atuam na área científica para além do período de pandemia que estamos vivendo.

ANA CAROLINA: Eu acho que nós temos ainda um longo percurso. Muitas vezes o fato da mulher ter que se ausentar durante o período para cuidar dos seus filhos etc.  das licenças maternidade… de repente ela volta e tem um acúmulo esperando, eu acho que teria que ter um olhar mais atento a isso em termos de produção para uma mãe que tem filhos pequenos, pensar essa questão dos múltiplos papéis.

BIANCA: Como ouvimos neste programa, é necessário e importante falar sobre a maternidade no meio acadêmico, ainda mais nesse período de distanciamento social que estamos vivenciando – quando tudo saiu dos eixos e todos tivemos que nos adaptar a uma nova situação de vida. 

BEATRIZ: Esse foi o objetivo desse episódio do Oxigênio, dar voz a essas pessoas para contarem o que estão passando nesse tempo e evidenciar que ainda há sim muito a ser feito. 

BIANCA: O Oxigênio vai ficando por aqui. O episódio foi apresentado por mim, Bianca Bosso, e pela Beatriz Oretti. Nós também fizemos as entrevistas, escolhemos as trilhas e construímos o roteiro. 

Esse episódio é parte de um projeto do Programa Mídia Ciência, da Fapesp, supervisionado pelas pesquisadoras Simone Pallone e Ana Carolina Maciel.

BEATRIZ: As trilhas são da Youtube Audio Library e a revisão do roteiro é da professora Simone Pallone, do Labjor. Os trabalhos técnicos são de Gustavo Campos e a edição de Octávio Augusto, da Rádio Unicamp.

BIANCA: Você pode nos acompanhar nas redes sociais do Oxigênio. Estamos no Facebook, (facebook.com/oxigenionoticias – tudo junto e sem acento), no Instagram (@radiooxigenio) e no Twitter (@oxigenio_news).

BEATRIZ: Siga também as redes sociais da Cocen, Facebook e Instagram (@cocenunicamp), além do site (cocen.unicamp.br).

BIANCA: Você também pode deixar a sua opinião sobre este episódio e sugerir temas para os próximos programas. Basta deixar o seu comentário na plataforma de streaming que utiliza. Até a próxima!

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