Dados abertos e a ameaça a espécies em extinção
jun 12, 2017

Compartilhar

Assine o Oxigênio

A transparência tem sido a palavra de ordem nas ciências, sobretudo como forma de evitar fraudes e outras más condutas. Mas ela pode estar colocando espécies raras em perigo ainda maior.

Os pesquisadores da Australian National University, David Lindenmayer e Ben Scheele, publicaram na edição de 26 de maio da revista Science um apelo que à primeira vista parece inusitado.

“Não publiquem” é o título do ensaio em inglês. Isso, claro, seria contrário ao grande motor do trabalho acadêmico: a publicação dos achados nas revistas da área. Mas a publicação de dados sobre o tamanho populacional de uma espécie pode indicar sua raridade. E raridade literalmente tem um preço no mercado negro do tráfico de animais e plantas. E, mais do que isso, a publicação de dados de geolocalização de populações têm sido usada por caçadores e coletores ilegais para obter seus prêmios, como no caso de uma espécie de lagarto monitor de Bornéu, descrito em 2012.

A situação fica ainda mais drástica com a publicação dos dados em revistas de acesso aberto, ainda que o paywall tampouco impeça que os malfeitores obtenham a informação.

Dependendo do grau de capacidade de proteção ao meio ambiente que as autoridades locais podem oferecer, como tamanho do efetivo de fiscais e policiais, seu treinamento, equipamentos e confiabilidade, o máximo de informação sobre a localização de uma espécie ameaçada que se pode dar é em que país ele ocorre. E isso se não for um país muito pequeno.

Os autores listam ações a serem tomadas em relação à divulgação de dados de acordo com o grau de vulnerabilidade da espécie. Se o risco de extinção for baixo, a informação sobre comportamentos, hábitats e localização não necessita de nenhuma restrição. Para espécies com risco moderado, as informações devem ser liberadas apenas para pessoas autorizadas. No caso de risco alto, apenas agências regulatórias devem ser notificadas.

Mas os pesquisadores notam também os reveses dessas ações. Quanto mais restrita a circulação de informação, menor a colaboração científica possível. Observadores amadores são importantíssimos para o monitoramento de muitas espécies, por exemplo.

Com menos colaborações, menos avanços científicos podem ser obtidos, inclusive de descobertas que poderiam ajudar na conservação das espécies que se pretende proteger.

Leia também: Call to keep secrets on rare species draws reluctant support

Matéria de Roberto Takata, locução de Simone Pallone.

Veja também

Evento aborda a cultura matemática, diagnósticos e perspectivas

Evento aborda a cultura matemática, diagnósticos e perspectivas

No último 16 de maio, aconteceu na USP o encontro “Cultura Matemática: diagnósticos e perspectivas”, promovido pelo Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática, o CEPID NeuroMat. Segundo o professor doutor Fernando Paixão, coordenador de difusão...

Eficácia do canabidiol em estudo no Brasil

Eficácia do canabidiol em estudo no Brasil

  O canabidiol é um medicamento feito a partir da planta da maconha, Cannabis sativa. Ele atua no sistema nervoso central, ajudando a tratar doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, como esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia ou ansiedade. Feito a partir...

Escrita é incentivada em jogo produzido na FEUSP

Escrita é incentivada em jogo produzido na FEUSP

  Entender textos simples é uma dificuldade vivida por diversos pessoas, que sabem ler e escrever, mas não não compreendem o que é dito. Com isso em mente, a pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), Silvia Colello, idealizou um...

Cresce o uso de fertilizantes na América Latina

Cresce o uso de fertilizantes na América Latina

O consumo de fertilizantes cresceu cerca de 27% na América Latina em 2012 quando comparado a 2006, sobretudo em países com menor área territorial. Esta é a conclusão de artigo publicado na revista científica Bioagro. Os fertilizantes são produtos utilizados no solo...

Mosquitos e doenças: estudos avançam em conhecimento

Mosquitos e doenças: estudos avançam em conhecimento

  O grande hit do último verão foi o maior surto de febre amarela das últimas décadas no país. O total de casos e de óbitos ainda será consolidado, mas é a primeira vez desde que se iniciou a série atual de registro em 1980 que se entra na casa de três dígitos de...

Oxigênio realiza oficina de rádio em assentamento do MST

Oxigênio realiza oficina de rádio em assentamento do MST

  Acompanhe as novidades de um projeto especial do programa Oxigênio, a participação na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Entre diversas ações, a iniciativa incluiu uma oficina de rádio para a comunidade do assentamento Milton Santos, em...

Cientistas reagem a ameaças ao financiamento de pesquisa

Cientistas reagem a ameaças ao financiamento de pesquisa

2017 começou bastante temerário para o universo da Ciência e Tecnologia. Isso porque no final de 2016 o governo federal colocou o orçamento de R$ 1,7 bilhão destinados à ciência em um arcabouço desconhecido chamado de Fonte 900, uma espécie de conta em que o dinheiro...

Campanha quer mais homenageadas entre nomes de ruas

Campanha quer mais homenageadas entre nomes de ruas

  Quanta história está registrada nas placas de ruas, não é verdade? Apesar de tão presentes no nosso cotidiano, as mulheres que foram importantes para o Brasil são a minoria entre essas homenagens. Uma campanha em São Paulo chama a atenção para este dado: apenas...

Empresas aéreas vetam animais para pesquisa

Empresas aéreas vetam animais para pesquisa

Em junho deste ano, a Latam anunciou que não iria mais transportar animais vivos “cuja a finalidade de transporte seja para pesquisa e experimentos em laboratório ou qualquer outro tipo de estudo científico”. A alegação é de que seria um compromisso com o meio...