Nesta edição das Olimpíadas Rio 2016, diversos atletas, inclusive o multicampeão Michael Phelps, foram vistos com marcas circulares arroxeadas nas costas. Não demoraram a aparecer gracejos comparando as manchas a fatias de calabresa numa pizza ou que o nadador americano havia dormido sobre suas infindáveis medalhas.
As manchas, na verdade, eram hematomas resultados da aplicação de um tratamento chamado ventosaterapia, que, conforme alegam os nadadores, ajuda a reduzir a dor e a tensão musculares. Mas ventosas melhoram mesmo o desempenho dos atletas?
Sem rodeios, a resposta é: não se sabe. Estudos isolados sobre o efeito da técnica no alívio da dor apresentam um resultado positivo em relação a controles que não recebem o tratamento, porém o problema é que esses estudos não levam em conta o efeito placebo – a influência causada pelo fato de o paciente acreditar no tratamento recebido e não pelo tratamento em si.
Não há ainda um sistema que sirva de maneira eficiente como placebo da aplicação das ventosas.
A técnica, conhecida em inglês como cupping, faz parte da chamada medicina chinesa, mas também se faz presente em outras tradições curativas pré-científicas. Um copo redondo de vidro, a ventosa, tem o ar de seu interior aquecido com fogo e é aplicado sobre a pele com a boca para baixo. Sem a fonte de calor, o ar rapidamente resfria e se contrai, diminuindo a pressão no interior do copo. A pressão dos fluidos do corpo faz com que a pele e um pouco da musculatura adentrem o aparelho.
Então como seria possível dar um tratamento que sirva de placebo? O paciente teira que acreditar que lhe foram aplicadas as ventosas: ver os copos, sentir a sucção e notar as marcas em sua pele, mas sem que haja realmente uma sucção.
Um sistema proposto por cientistas sul coreanos utiliza copos com furo no fundo, que permite a entrada de ar, limitando a intensidade da sucção. De acordo com o estudo publicado pelo grupo em 2010, na revista Acupuncture in Medicine, a sensação relatada foi comparável entre os que receberam o tratamento com os copos verdadeiros e os que receberam o tratamento com os copos furados, porém a tendência era de que a sensação relatada no primeiro grupo – com copos verdadeiros – tivesse uma intensidade maior.
Talvez um dia um correspondente placebo eficaz seja desenvolvido para a realização de estudos controlados mais completos e possamos saber quantas, se alguma, das medalhas de Phelps no Rio 2016 podem ser atribuídas ao visual de cosplay de pizza de calabresa.
Saiba mais:
Plos One: An Updated Review of the Efficacy of Cupping Therapy
Jams: Is Cupping an Effective Treatment? An Overview of Systematic Reviews
NY Times Blogs: What Are the Purple Dots on Michael Phelps? Cupping Has an Olympic Moment
Carlos Orsi Blog: Pseudismo olímpico
Matéria de Roberto Takata e locução de Bárbara Garcia.
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