Os desastres naturais sempre existiram na Terra. As mitologias de povos antigos entendiam esses fenômenos como castigo dos deuses. Na América do Sul, por exemplo, os tupi-guarani acreditavam que Tupã era o deus da meteorologia que se manifestava na forma de trovão. Os incas atribuíam os tremores de terra à raiva de Pachacamac, além de tantas outras histórias. Assim, relata a geógrafa Lucí Hidalgo Nunes no livro Urbanização e Desastres Naturais – Abrangência América do Sul, lançado em 2015. Ela aponta o quanto as catástrofes naturais perseguem o planeta, e afirma que cabe à humanidade melhorar sua capacidade de lidar com esses eventos. Alguns podem ser evitados ou ter efeitos mais brandos prejuízos menores minimizados com gestão adequada gestão.
O livro é um levantamento sobre os desastres naturais que ocorreram na América do Sul entre 1960 até 2009. A autora observa quais são as influências e consequências para as regiões urbanas, que tem grande concentração de pessoas e se expande modificando o ambiente cada vez mais.
Dividido em quatro partes, os primeiros capítulos do livro são fluídos e conceituais para o leitor compreender o que são cada tipo de desastre e as características geográficas, sociais, políticas e econômicas da América do Sul, que interferem no planejamento e auxílio em casos de calamidades. Mesmo assim, é necessário conhecimento básico sobre geografia e sobre os principais desastres já ocorridos. Os últimos capítulos são mais densos em dados e análises, que relacionam os eventos com o número de pessoas afetadas, mortes e prejuízos econômicos. Porém, a pesquisadora destaca a necessidade de um banco de dados completo e padronizado na América do Sul. Segundo Lucí, falta consenso entre definições, e há questões políticas que mascararam os dados, as vezes exagerando para conseguir mais benefícios externos ou ocultando impactos das tragédias, principalmente durante o período de ditatorial nos países da região.
Entre os resultados, a geógrafa observou que 78,4% dos desastres naturais são de carácter hidrometeorológico e climático, ou seja, são secas, diferenças extremas de temperatura, inundações, incêndios, movimentos de massa seca ou úmida e tempestades. 14% são eventos geofísicos, como abalos sísmicos e vulcanismo e 7,5% são biológicos como epidemias. A pesquisadora aponta que houve um aumento de desastres naturais em todo o mundo, demonstrando a vulnerabilidade humana e o “distanciamento entre as conquistas científicas e tecnológicas dos reais problemas que afligem a sociedade”. E apesar das tragédias continuarem acontecendo, as sociedades devem se preparar para que as superações sejam mais rápidas.
O livro contribui para pesquisas na área, além de servir como base para futuras políticas públicas transnacionais. Quer saber mais sobre o tema? Confira esta resenha completa e outros artigos e reportagens na edição da revista eletrônica ComCiência, número 176, sobre “Desastres Naturais”.
Kátia Kishi para Caleidoscópio.