# 172 – Quanto custa essa alface?
out 12, 2023

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Você sabe o que é Economia Solidária, e quais os princípios desse modelo de produção, consumo e distribuição de riqueza mais justo? Neste episódio, Karina Francisco e Wesley Bastos apresentam dois projetos de comercialização de alimentos que são dois bons exemplos. Para isso eles conversaram com os associados – como são chamadas as pessoas que atuam nos projetos – Karina Morelli e Nielsen Felix, do Instituto Candombá, de Campinas, e a Juliana Brás Leblanc, do Projeto Chão, de São Paulo. Eles ouviram também a produtora Marina, de São José do Rio Pardo, que conta quais as vantagens de ser parceira em projetos como esses.

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ROTEIRO – Quanto custa essa alface? 

Som de porta  do carro batendo, entrando na loja com a música tocando, fim de conversa com um outro consumidor. Bom dia. 

NIELSEN FELIX: Muito obrigado pela visita do senhor, uma boa tarde! 

KARINA FRANCISCO: Olá, bom dia!

KARINA MORELLI: Você já conhece o projeto, né?

CLIENTE DA LOJA: Oi, tudo bom? Eu nunca vim, mas meu marido já veio.

KARINA MORELLI: Ah, tá! A gente é uma associação sem fins lucrativos.  a gente tem uma política de transparência. Todos os meses a gente publica todos os nossos gastos e o que a gente recebeu naquele mês. Todos os produtos estão sendo vendidos ao que eles custam pra nós. Então, tem só o que a gente pagou na nota fiscal, mais o frete, mais um pequeno percentual de perda. Pra gente poder se manter, a gente pede uma contribuição na hora da compra, que não é obrigatória, mas é necessária porque se ninguém pagar a gente fecha e hoje o que a gente tá falando é que a gente precisa de 30% em cima do preço do produto. 

CLIENTE DA LOJA: Ah, semelhante ao que faz o Chão.

KARINA: Isso mesmo.

KARINA FRANCISCO: Olá! Eu sou a Karina e o que você acabou de ouvir é um pouco do cotidiano do Instituto Candombá, uma associação sem fins lucrativos, autogerida e baseada na Economia Solidária.

WESLEY: Oi, eu sou Wesley e, junto com a minha colega Karina, peço licença pra falar de economia solidária e alface. Pois é. Nas folhas de uma simples alface a gente vai ler uma história que está sendo escrita aqui, agora, em diversos empreendimentos de economia solidária, como é o caso do Instituto Candombá, que vamos conhecer a seguir.

VINHETA OXIGÊNIO

KARINA: Imagino que pra se alimentar você costume ir ao mercado, né? Comprar macarrão e tomate pra fazer o molho, comprar a alface pra salada. Mas… você conhece a origem dos produtos que adquire? Sabe de onde veio o tomate? E a alface? Eu tenho ainda outras perguntas. Você sabe qual é a margem de lucro do mercado que compra essa alface do produtor? Tem amizade com trabalhadores desses locais em que costuma comprar? 

WESLEY: A gente tá perguntando isso porque são esses e outros questionamentos que instituições baseadas em Economia Solidária fazem questão de explicar. Economia solidária é uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza centrada na valorização do ser humano, e não do capital.

CLIENTE 2: E esses produtos aqui, GoGreen, Boaterra, o que seria isso? 

NIELSEN: Em todas as nossas gôndolas aqui, você sempre vai ver o nome do produto, o preço e quem é o produtor do dia, que está expondo. Lembrando que nosso preço costuma variar bastante porque cada produtor pede [um valor], e a gente vende por aquele preço que o produtor está pedindo. 

KARINA FRANCISCO: Iniciativas como o Candombá surgiram para ser uma alternativa de compra com maior transparência e consciência. Nielsen e Karina Morelli, associados do Instituto Candombá, explicam um pouco mais o que é tão diferente em sua mercearia.  

 NIELSEN: Durante o dia funciona como um mercado normal, né? Como eu disse. O que diferencia a gente é, a clareza que a gente tem nas ideias com os clientes. Eu acho que um diferencial que a gente tem também é a pessoa poder entrar aqui e ela conseguir enxergar outras coisas que no mercado comum ela não enxerga, que são os custos, a questão da transparência, a questão de conhecer quem são os fornecedores dos nossos produtos.

KARINA MORELLI: Todos os meses a gente divulga o que a gente ganhou e o que a gente gastou. Então a  gente divulga os nossos gastos e os nossos recebimentos. Os produtos são vendidos ao preço só do custo dele. Está no preço da prateleira, só o que a gente pagou pelo produto, mais o frete, mais um pequeno percentual de perda. Ou seja, no valor que o produto tá na prateleira ainda não tem tudo aquilo que precisa para gente sustentar o projeto. Então ali naquela alface que tá exposta por um determinado valor, ainda não tá minha água, minha luz, meu aluguel, a remuneração dos associados. Então para sobreviver a gente pede uma contribuição que ela é voluntária. Mas ela é necessária porque se ela não existir, a gente não funciona. 

WESLEY: No preço de custo que está exposto, e na contribuição sugerida ali, na hora de pagar pelo produto, o consumidor é convidado a conhecer essa cadeia que começa no produtor, passa pelo armazém e chega na mesa.

KARINA FRANCISCO: Falando em produtor, a gente também conversou com a Marina, agricultora agroecológica do Aroeira,que é de São José do Rio Pardo e tem parceria com o Instituto Candombá. Ela confirma que a iniciativa e a forma como os produtos são comercializados é extremamente vantajoso pro produtor, além de ser mais justo. 

MARINA: Hoje eu diria que é o melhor modelo de comercialização de produtos orgânicos. Por quê? Primeiro que o mais importante e o principal, eu diria, que é a sazonalidade. Porque eu consigo comercializar de fato aquilo que eu tenho na terra (…) Então ter um lugar onde eu possa ofertar o produto que está na época certa, de acordo com a natureza, o melhor que eu possa oferecer, para mim é o melhor modelo. A segunda coisa que é muito importante nesse modelo de comercialização é o que é justo.Hoje eu consigo estar ligada direto ao consumidor através do Candombá, que ele saiba qual é o meu produto e o quanto ele realmente vale. E no caso do Candombá, é um modelo totalmente humano e verdadeiro. Porque aquilo que está sendo ofertado, primeiro que é o melhor que eu posso dar para a pessoa e o segundo que é o mais justo, porque é o que eu considero o que é o melhor para mim, para o meu negócio. Então o consumidor, ele realmente está contribuindo com o meu negócio integral, não tem ninguém atravessando a gente.(…)  Você não tem um mercado explorando o produtor, explorando o consumidor. Ele está sendo justo em toda a cadeia. 

KARINA: E quais produtos Institutos como o Candombá vende? Um pouco de tudo. Desde legumes, frutas e verduras até laticínios, farináceos e produtos de limpeza. A prioridade é para agricultores familiares e produtos com certificação. 

BG – SONORA CANDOMBÁ: Eu reparei que esse produto é de agricultura familiar, qual seria a diferença? A Karina conta pra gente.

KARINA MORELLI: E é essa a proposta. Que a gente consiga trazer os orgânicos de uma maneira mais acessível para as pessoas, aí a gente garante no mercado de escoamento para o pequeno produtor. Ele permanece no campo trabalhando sem agrotóxico e a gente vai construindo aí uma cadeia solidária, onde todo mundo se beneficia desse modelo de negócio. 

WESLEY: Vamos falar sobre esse modelo de negócio. O Candombá é um Instituto incubado pelo Chão, um outro mercado baseado na Economia Solidária, que fica em São Paulo, e já está operando há 8 anos. A Juliana Brás Leblanc, associada do Chão, contou pra gente um pouco do porquê de fazer um mercado diferente. 

JULIANA B. LEBLANC: Bom, eu acho que uma das premissas, e quando o Nielsen fala de economia solidária, eu acho que tem dois pontos né. Um deles é o fato de que não tem lucro, de que não tem exploração do trabalho então, né? Quando eles abrem, quando eles dizem, né? E lá no Chão também, que é a inspiração do Candombá, a gente diz que a gente abre os nossos custos e a gente vende o produto pelo custo dele, né e separa o custo do produto do custo da venda, né? A gente tá primeiro mostrando para as pessoas quanto as coisas custam e outra a gente não tá embutindo nosso valor de trabalho no valor do trabalho do produtor. Se ele tá me dizendo que ele precisa vender aquele produto por R$ 2, é porque ele para ele continuar fazendo aquilo e pagar as contas dele, ele precisa pagar, ele precisa receber aquele valor.

KARINA FRANCISCO: Para Karina, Nielsen e Juliana, é importante separar o valor do custo do produtor do custo da venda, para que as coisas não se sobreponham. Sobre isso, o professor da UFSCAR, Joelson Carvalho, fala da importância da economia solidária dentro do modelo de consumo que vivemos.

JOELSON CARVALHO:Percebem então [que] entender preço justo é entender o valor do trabalho, entender relações de trabalho é falar da importância do trabalho autogestionário coletivo e cooperado.

Então, quando a gente imagina uma cooperativa dividindo tudo aquilo que ela é de maneira democrática de maneira negociada de maneira horizontal tudo aquilo que é produzido em termos de lucro ou mesmo uma outra palavra não muito capitalista em termos de faturamento. A gente tá numa iniciativa alternativa ao capitalismo (…)

Então hoje é uma realidade internacional (…) Mas falando no caso brasileiro é uma realidade que é conhecida nacionalmente mapeada por institutos de pesquisa transcende que o consumo está no consumo está na distribuição está na produção economia solidária, não é Apenas a feirinha (em que pese nós amamos as feiras de economia solidária), mas ela também é rede de consumo solidário articulações de circuitos curtos de comercialização produção e Distribuição de diversas mercadorias e ela é conhecida e reconhecida institucionalmente

WESLEY: Que o lucro não é a finalidade de um empreendimento de economia solidária, a gente já entendeu. Mas afinal, o que está em jogo?

JULIANA: A proposta é… e a proposta da economia solidária é um pouco essa né? Um pouco, não. É essa! de que a gente ponha no centro do fazer econômico, porque economia na verdade é a gestão dos recursos, né do mundo da sociedade. Isso é economia é como que a gente faz a gestão da riqueza para todo mundo sobreviver. Esse é o mundo econômico, só que a gente põe no centro do mundo econômico acumulação, como se o fim da economia fosse poupar fosse sobrar dinheiro, fosse acumular não fim da economia é o bem-estar das pessoas. Então eu ponho as pessoas no centro do fazer econômico. 

NIELSEN: a gente se sente aqui como cuidando da vida das pessoas cuidando da família das pessoas. Isso é muito gratificante.

A gente tem um produtor aqui que ,o nome dele é Marcelino, que as pessoas vêm toda quinta-feira aqui, “o Marcelino já chegou?”” já tem o brócolis do Marcelino?” Sabe? Como é importante essa valorização. Então eu acho que a economia solidária me trouxe muito isso aí sabe, a valorização das pessoas.

JULIANA: Essa experiência de produzir economicamente de uma outra forma, né? Eu acho que a economia solidária tem essa junção entre o político e o econômico, né? Que é enquanto você está produzindo economicamente de um outro jeito, você também tá pondo a discussão da participação da política, né da busca pela transformação enquanto você tá fazendo aqui, né? Não é uma proposta que fica abstrata assim então quando eu encontrei o chão eu falei nossa, é aqui que eu quero ficar.

WESLEY: O Instituto Chão e o Candombá são alguns exemplos de como produzir economicamente de uma outra forma, unindo a política com a economia de uma maneira solidária. É sobre se importar em conhecer quem planta, colhe e distribui o produto que você consome. 

KARINA FRANCISCO: Mas isso não quer dizer que não há desafios pelo caminho. Afinal, como os consumidores acabam olhando esse modelo e como eles entendem isso? Novamente recorremos às explicações do professor Joelson.

JOELSON: Este é um modelo, te garanto que não é o modelo mais usual, mas ele é um modelo muito interessante, porque ele atravessa a relação econômica com uma relação de solidariedade, né? Com relação de que na medida em que eu posso ou não contribuir, eu opto pela contribuição voluntária no valor que eu acho que eu consigo viz a viz aquilo que a gente entende que o Instituto precisa nesse modelo. Ele é super interessante, mas encontra certas dificuldades naturais. O consumidor não necessariamente está envolvido com a economia solidária. E se ele não estiver envolvido com a economia solidária, entender o papel daquela voluntária colocação de dinheiro a mais, particularmente ele compromete esse sistema. 

WESLEY: Segundo os relatos do instituto Chão e do Candombá, o trabalho de formiguinha de apresentar o seu modelo de negócio tem sido bem recebido pela população de  São Paulo e Campinas. 

KARINA FRANCISCO: Outro desafio apontado pelos associados é a própria autogestão. A comunicação constante, as tomadas de decisões e sua participação em diversas frentes do projeto, são várias atividades que  exigem comprometimento e aprendizado constantes. 

WESLEY: Afinal, as pessoas que limpam, arrumam prateleira e recebem entregas são as mesmas que definem as estratégias de compra, lidam com as burocracias e ficam no caixa. Todo mundo tem funções essenciais e importantes no projeto, assim como voz nas decisões, sem hierarquias. 

JULIANA: por exemplo a ideia de ser passado para trás, de que uma relação econômica é uma relação de ganho e perda, né? Que alguém sempre perde, né? Você construir com as pessoas de que não, de que não é sobre isso, tanto com quem compra como no âmbito do trabalho internamente. Por que eu acho que aquela pessoa tá dizendo aquela coisa? É um ambiente de competição, é um ambiente de “quem sabe mais, leva mais, ganha mais, vai mudar de cargo”, né? A gente foi criado um pouco nessa cultura.

KARINA FRANCISCO: Mas é possível pensar um mercado em economia solidária sem que haja competição ou concorrência?

JOELSON: É a primeira coisa é fazer com que as pessoas dentro da economia solidária olhem para os outros e não vejam competidores e sim colaboradores e não no sentido dos colaboradores empresariais é que olhe para o outro e veja um parceiro em potencial mesmo que ele produza o mesmo que você.

WESLEY: E é exatamente esse o esquema do Chão e do Candombá. No caso do segundo, como vai nos contar a Karina Morelli, vários produtores colocam seus produtos no mercado, em diferentes dias da semana. Uma curiosidade é que muitas vezes o valor de um mesmo produto é diferente.

KARINA MORELLI [36:53 – 37:30] Então, o Marcelino vem na quinta e traz alface, Boa Terra vem ali de Casa Branca e entrega no domingo. Então segunda-feira é alface de Casa Branca, sexta-feira é alface do Marcelino. Aí vem o Aroeira na terça, quarta tem alface do Aroeira. É o que a Ju falou, a gente põe o preço que o produtor fala né? A gente traz o portão grande. Então, alface do portão grande é 3,22, a alface do Aroeira é 3,30, alface do Marcelino outro dia tava 2,97. E aí a pessoa vem aqui falar. Nossa, mas mudou o preço? Mudou, o preço é o preço que o produtor falou.

NIELSEN: se a gente vende 60 pés de alface na semana, tá? E um número que a gente tá supondo. Se a gente vende 60 pés de alface e a gente tem três produtores, a gente vai pegar 20 de cada e vai distribuir de acordo durante os dias da semana. Mesma coisa rúcula, tudo é dividido entre os mesmos produtores, a gente procura sempre pegar um pouco de cada para estar ajudando toda essa rede. Nunca tudo de um só.

JOELSON: Quanto deve custar alface? o valor necessário para que as pessoas continuem plantando alface e o valor necessário para que o comércio continue vendendo a alface, não esquecendo de remunerar o transporte. 

Qual é o valor da alface?  esse que remunera toda a cadeia produtiva de maneira humana e justa. Mas isso não encarece muito produto? Depende, depende.

JULIANA: O mestrado profissional de uma instituição que chama IP fez para gente que eram 30 estabelecimentos comerciais da zona oeste de São Paulo e pegaram grandes mercados pequenos mercados médios mercado feira orgânica feira convencional e dentro dos mercados convencional e orgânico. E aí na hora que faz essa aparece a média dos preços a gente fica muito próximo do convencional da feira que seria aquilo que seria o mais barato. E aí bom, mas por que que então fica mais barato sim, porque a gente não valor que não seja o custo de fazer essa transação toda essa transação toda não precisa ter uma sobra não precisa tirar nada além do que ela custa. Eu preciso que ela aconteça. Então não é que fica mais barato que fica mais justo.

Pensando aí muito especificamente na dimensão do que a gente vende, né dos produtos orgânicos agroecológicos da Agricultura Familiar esse mito de que é mais caro, né? Tem um mito mas que não é um mito também é um projeto em disputa porque tem uns que querem que seja um nicho de mercado caro e tem os que querem que seja comida boa para todo mundo alimento saudável para todo mundo

WESLEY: Uma das formas de baratear, ou como bem observa a Juliana do Chão, de tornar o preço justo é, além de não embutir lucro, enxugar o custo de logística ao priorizar os produtores regionais.

KARINA FRANCISCO: As pessoas que aqui falaram acreditam muito no processo de transformação da sociedade para um lugar com mais confiança, distribuição justa e de relacionamentos. O espaço acaba se tornando um lugar para trocar histórias. 

KARINA MORELLI: Tem histórias muito legais assim. A gente sempre pergunta, né no caso você já conhece o projeto, né? Aí a pessoa falou assim, eu conheço o projeto, frequento aqui, eu procuro comprar tudo aqui com vocês, porque eu gosto muito de vocês. Outro dia veio uma senhora que falou que tinha se aposentado, não tinha mais ânimo de sair de casa e agora alegria dela era vir toda semana no Candombá, porque ela acreditava muito no projeto. 

WESLEY: E não é só acreditar, como disse a Karina Morelli Quem vai até o instituto Candombá dá de cara com o balanço financeiro inteiro do projeto, tudo escrito à giz, numa lousa enorme. Essa transparência convida os consumidores a também se tornarem questionadores.

KARINA MORELLI: tem outras pessoas que questionam né e dizer assim, mas por que o preço né? Por que que esses 30% já não tá embutido no produto, né? E aí a gente explica: não, é exatamente essa proposta. A gente quer trazer esse questionamento, a gente quer colocar ali, a lousa, mostrando os gastos e mostrando os custos, né? A gente quer trazer para todo mundo quanto as coisas custam e como é que isso funciona. 

WESLEY: E nem sempre esses questionamentos e desconstruções são fáceis para quem está comprando um produto. A Juliana trouxe uma história para exemplificar.

JULIANA: Outro dia foi uma mãe com uma filha e aí ela falava assim ai, “mas por que que vocês não põe logo essa contribuição no preço do produto?” Daí a gente falou: “bom, mas é para você sempre pensar porque que você tá deixando ou não”. Ela falou assim, “acho um saco” aí a filha falou “mãe! Você preferia não saber quanto as coisas custam?” ela falou “eu preferia! eu preferia não saber” aí a filha falava assim “mãe, mas que vergonha!”  e aí ela falava assim” não, Ai, não, é muito difícil”. E aí mostrando a dificuldade dela, né? 

KARINA FRANCISCO: Essas perguntas também são feitas por quem pesquisa a economia solidária. Joelson nos conta que, sobretudo na pesquisa de ponta e na extensão universitária, há um campo fértil não só para entender os comos e porquês, mas para colocar o conhecimento em prática.

JOELSON: Na pesquisa de ponta de preferência na extensão Universitária e é essa janela que nos anos 90. Essa janela nos permitiu criar uma rede de pesquisadores e pesquisadoras de diversos níveis oriundos da universidade e a partir da universidade para montarmos algo que nós, naquele momento e até hoje esse é o nome, chamamos de ITCPs. O que são as ITCPs? De maneira bastante simples, uma TCP é uma incubadora tecnológica de cooperativas populares.

E aí vamos traduzir incubação que é uma palavra estranha a muitos ouvidos a facilitar ajudar Empreendimentos sociais de preferência coletivos que tinham dificuldade com básico, mas que tinham vocação talento vontade. 

Uma incubadora é aquela que não é dá respostas prontas, mas que constrói junto com o sujeitos sociais esses primeiros passos de formação e consolidação desses Empreendimentos desde o momento de ajudar as pessoas a se empoderar para fazer uma ata e registrar essa ata no cartório até o momento de contribuir por exemplo ou como se faz uma planilha de custos para vocês entenderem o que tá entrando e o que tá saindo o que é um fluxo de caixa e outros papéis importantes, o que que é um preço justo?

WESLEY: Portanto, você pode começar a praticar economia solidária sem nem saber muito bem do que se trata. Você pode pensar mais em um consumo consciente e em práticas conscientes. 

JOELSON: É sempre imaginar preço justo, o que que é o preço justo? Quando você entender que uma alface no Carrefour custa três e na feira custa 5. Imagine você Que alface que você vai pagar cinco, se você tiver condições de fazer isso é um alface que gera Mais Emprego mais renda mais saúde mais segurança alimentar e nutricional por mais que seja o mesmo produto, as redes que você estará contribuindo são redes e avançam na agroecologia, na produção orgânica e no encurtamento de uma cadeia produtiva que beneficia todos e todas

JULIANA: E aí tem uma uma historinha clássica que também é com alface, né? Que uma vez há bastante tempo já uma cliente falou no caixa para mim. Falou? Ah, Juliana. Você vem sempre com essa contando mais coisas, né? Eu venho aqui comprar um alface e você põe muito mais coisas dentro da minha sacola. Eu falei bom, mas as coisas que importam são as coisas que vão dentro da sacola e eu acho que um pouco que a gente faz no Candombá, que a gente faz no Chão um pouco aí abrindo um pouco esse repertório e esse Horizonte né do pensar das pessoas que é tão naturalizado.

KARINA: Esperamos que após esse episódio você coloque mais coisas dentro da sua sacola de compras. 

Esse episódio foi produzido e apresentado por Karina Francisco e Wesley Bastos. A revisão de roteiro é da Simone Pallone e os trabalhos técnicos são de Octávio Augusto, da Secretaria Executiva de Comunicação da Unicamp e da Elisa Valderano, bolsista do serviço de apoio ao estudante da Unicamp. Se você gostou do episódio, deixe seu comentário nas redes sociais do Oxigênio. Estamos no instagram e no facebook como @oxigênio podcast. 

WESLEY: Até a próxima! 

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