Museu francês reúne ciência e história aeroespacial
maio 13, 2017

Compartilhar

Assine o Oxigênio

Segunda Guerra Mundial. Você pode não ter entendido nada do que esses caras disseram, mas eu acho que já deu para perceber do que se trata. Este um trechinho do vídeo exibido dentro de um dos aviões que estão expostos no Museu do Ar e do Espaço, em Paris.

Nesse mesmo hangar, tem vários aviões de guerra, e até armamentos. Muitos ainda com a suástica, o símbolo utilizado pelos nazistas. De dentro do avião, o som das bombas é muito forte: estamos no desembarque das tropas na Normandia, que estava ocupada pelos alemães.

Para retomar o território, os soldados franceses e britânicos se jogaram em pleno Canal da Mancha, no inverno, e tentaram subir pelas falésias, uma espécie de rochedo, bem alto. Mas o plano deu errado. Com a penumbra que se vê pelas janelas do avião em que estamos agora, usa sua imaginação: se você ficar bem quietinho, dá para voltar ao passado com esse áudio, e tentar imaginar o que sentiram esses paraquedistas, que foram praticamente dizimados nessa batalha.

Hoje a gente vai te levar para Le Bourget, uma cidadezinha nos arredores da Ile de France, que tem muita história – mas principalmente, muita ciência e tecnologia! Porque esse não é um museu convencional.

Aqui, os amantes da aviação podem entrar em várias aeronaves, de diferentes épocas. E até conhecer os bastidores da corrida espacial, por exemplo, com a ajuda de alguns protótipos e simuladores de voo. Diversão garantida não só para a criançada, mas principalmente para os adultos!

Ao todo, são mais de 150 aviões, do mundo todo! Entre eles, o Dakota-DC 3, esse que você conheceu agora com os paraquedistas. E o Super Frelon, um dos primeiros helicópteros franceses de grande porte, utilizados no resgate em alto mar. O Boeing 747, também francês, que marcou a aviação por ousar transportar 400 pessoas também fica aqui em exposição e você pode visitar.

Mas o Concorde é literalmente um caso à parte. Projetado em meados de 1960, em plena guerra fria, por franceses e ingleses, ele tinha o desafio de superar o rival, o Tupolev, que estava sendo elaborado, ao mesmo tempo, pelos russos.

O objetivo era a aviação civil. Mas assim como os caças, da aviação militar, os supersônicos Concorde e Tupolev também poderiam ultrapassar a velocidade do som, e fazer o percurso Paris – Nova York, por exemplo, em 3h30.

Para você ter uma ideia dessa velocidade, que equivale a cerca de 1.100 km/h, é só pensar como deve ter sido estar em um dos voos do Concorde em uma espécie de “racha” com um dos seus contemporâneos, o Boeing 747.

Em 1985, os dois aviões decolaram ao mesmo tempo, um de Boston, nos Estados Unidos, e o outro de Paris, na França. Mas enquanto o Boeing 747 ainda estava à caminho, atravessando o Oceano Atlântico, o Concorde, que tinha saído na direção contrária, já tinha chegado em Paris, voltado para os Estados Unidos, e aterrissado de novo, antes do Boeing chegar!

Por isso, é claro, que o Concorde acabou chamando a atenção também de vários cientistas, que participaram de diferentes formas dessa fase de testes. Lá de cima, os pesquisadores analisaram, por exemplo, como algumas substâncias poderiam reagir ao ultrapassar essa velocidade do som, e acompanharam também um eclipse, no sentido contrário, sobrevoando o deserto do Saara. Imagina só que privilégio!

E se você acha que 1.100 km/h já está legal, você está muito enganado porque o Concorde não parou por aí: em 4 de novembro de 1971, os pilotos atingiram a velocidade supersônica Mach 2, que equivale a mais ou menos 2.200 km/h! Aquela velocidade do racha, de 1985, era só a Mach 1.

Mas bom, aqui no hangar, a gente está passeando por dois aviões Concordes interligados. Você entra por um, observa cada cantinho, sem os bancos ou equipamentos, e quando entra no segundo, já se depara com manequins, e com as poltronas. Tudo simulando um vôo de rotina. E um desses aviões, é exatamente o protótipo utilizado nesses primeiros experimentos. O outro, fez parte da aviação comercial até se aposentar.

Os áudios e os vídeos te acompanham sempre, para dar a sensação desse momento único para a ciência. Hoje, a gente não pode mais ter o privilégio de voar em um desses aviões supersônicos porque as duas companhias aéreas que faziam esse serviço, não fazem mais.

Tanto a companhia francesa britânica decidiram paralisar as operações com o Concorde depois de um acidente. O último voo foi feito em 2003. Assim como o Tupolev que foi usado na aviação civil do lado russo e também se aposentou depois de quase duas décadas.

Atrações locais e online

Para quem gosta de entender como a tecnologia é feita, e como funciona a aeronáutica, o Museu do Ar e do Espaço é um prato cheio porque aqui funciona mesmo um aeroporto!

Hoje em dia, o aeroporto de Le Bourget é mais usado para a aviação executiva e para a manutenção das aeronaves, mas a gente pode andar pelas pistas que já não estão mais em operação e ver bem de pertinho também a maquete gigante de um foguete, o Ariane, ou cápsulas, e até mísseis nucleares – desativados, claro.

E o acervo, vira e mexe é renovado. Agora em fevereiro, por exemplo, a Air Bus doou mais um A-380 para a visitação. E outras aeronaves que não estão mais em operação ou que terminaram a fase de testes na empresa, também estão na lista para serem doadas.

Se você ficou curioso, mas não tem grana ainda para ir lá para Paris, fica tranquilo, porque o site do Museu do Ar e do Espaço tem vários vídeos, fotos, e até podcasts para você se divertir! Isso em vários idiomas, nem sempre em português, mas dá para ir atrás de alguma informação sim com a ajuda de um dicionário. Eles também têm web-séries, no canal do Youtube.

Museu do Ar e do Espaço – França
Site oficial: http://www.museeairespace.fr

Matéria de Cristiane Paião.

Veja também

Longa “Dunkirk” dirigido por Christopher Nolan

Longa “Dunkirk” dirigido por Christopher Nolan

“Dunkirk” é o décimo longa dirigido pelo cineasta britânico Christopher Nolan. Conhecido por explorar tensões psicológicas e mesclar elementos de realidade e irrealidade, Nolan faz uso dessas características para reconstruir um famoso evento histórico: a retirada das...

A Espiral da Morte: mudanças climáticas sob análise

A Espiral da Morte: mudanças climáticas sob análise

  “Antigamente, se perdêssemos muito gelo no verão, uma sequência de invernos frios seria capaz de repô-lo. Mas hoje não fica frio mais, então essa reposição está mais difícil. Muitas coisas conspiram para levar o gelo marinho embora. Há alguns anos eu criei essa...

Pokémons como ferramenta de divulgação científica

Pokémons como ferramenta de divulgação científica

  Há vinte anos a empresa japonesa de videogames Nintendo lançava o jogo Pokémon, em que o jogador captura criaturas com poderes especiais - os pocket monsters (monstros de bolso, em inglês) ou, abreviadamente, Pokémon - para usá-las em batalhas contra outros...