Estudantes criam dispositivo que auxilia no combate à violência doméstica
ago 16, 2016

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Observando o alto número de notícias de violência contra mulher sendo veiculadas na imprensa, as alunas Karolayne Martins, Natália Canto, e Emanuela Bernardo, estudantes do ensino médio da Fundação Nokia de Ensino de Manaus, no Amazonas, desenvolveram o projeto Capitu; um dispositivo capaz de usar o painel eletrônico já existente nas viaturas da polícia e assim auxiliar de forma mais rápida na ajuda a mulheres que estejam sofrendo algum tipo de violência doméstica.

O protótipo do dispositivo leva o nome de uma das personagens mais emblemáticas de Machado de Assis e custou menos de 100 reais para ser criado. Ele funciona como um botão do pânico simplificado, porém, muito efetivo, como explica Natália Canto, uma das desenvolvedoras do software.

Natália Canto – “O projeto foi separado em duas partes, primeiro foi feito o hardware. Esse hardware é composto por um botão que, quando acionado, também aciona um dispositivo de gravação em torno de dez segundos. A partir do momento que esse dispositivo é acionado, ele começa a gravar automaticamente e envia um sinal para uma central, que é uma aplicação que nós construímos na plataforma do Visual Studio, e essa aplicação tem algumas funcionalidades como: a imagem da vítima, a imagem da residência, das proximidades da casa, dados de endereço, telefone e gráficos acerca da situação desde o momento em que ela foi cadastrada na delegacia. Nós pensamos em fazer essa aplicação tendo em vista o sistema que já existe aqui na cidade de Manaus, que é o Ronda no Bairro”.

As viaturas da Ronda no Bairro receberiam os dados enviados pelo dispositivo, e de forma mais rápida poderiam chegar até a residência da vítima, agilizando o processo de resgate. O projeto já participou da Febrace, Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, e ganhou a medalha de bronze como melhor projeto de engenharia. Natália explica também que o dispositivo foi desenvolvido ao longo de nove meses e que a ideia é transformá-lo em um acessório para ser usado junto ao corpo.

Natália Canto – “Nós fizemos tudo a mão; soldamos e montamos as placas, todos os componentes eram bem grandes em comparação com os componentes de uma linha de produção, então nossa ideia seria que se ele fosse para uma linha de produção, obviamente a placa ficaria bem menor. Todos os componentes seriam reduzidos e assim a gente conseguiria colocar esse dispositivo como uma bijuteria, colar, pulseira ou até mesmo dentro da bolsa de modo que tivesse um acesso bem mais simples e que fosse bem discreto”.

O uso de dispositivos semelhantes já é adotado pela polícia, como explica Andrea Nascimento, titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM) de Manaus.

Andrea Nascimento – “Nós hoje temos na delegacia, o portal da mulher amazonense. Na verdade ele é um portal que pode ser visto na internet, mas que você também pode fazer o download no celular. Esse portal dá acesso à mulher, ao homem ou à qualquer pessoa sobre toda a rede de enfrentamento na questão da violência doméstica e familiar contra a mulher. E nesse portal há o aplicativo do Alerta Rosa, que é um botão do pânico similar a esse elaborado por essas estudantes da Nokia. Como ele funciona? A vítima, quando atendida na delegacia da polícia da mulher, quando se vislumbra naquela vítima que ela realmente está correndo um risco à sua vida ou à sua integridade física; que são casos específicos, não são concedidos para todas as mulheres, mas àquelas que estão realmente em situação de risco; é feito um cadastro aqui na delegacia mesmo. Então essa vítima é cadastrada de imediato, é feito o download no celular dela, deste aplicativo Alerta Rosa e ela já sai daqui com esse aplicativo pronto para caso ela precise acionar. Quando ela faz o acionamento, é feita uma chamada específica no nosso SIOPS (Subsecretaria de Integração e Operações de Segurança Pública), que é o 190, e ela vai ter um atendimento muito mais rápido feito pela polícia militar”.

Para a delegada, que já atendeu mais de seis mil casos de violência contra à mulher só esse ano, a criação de mecanismos para o combate à violência doméstica é essencial para evitar que os crimes venham a se concretizar.

Andrea Nascimento – “É sempre importante a criação de novos mecanismos ao combate à violência doméstica. A lei é incrível já, é efetiva no combate à violência com a instituição das medidas de urgência, mas nós temos os casos excepcionais; aqueles que casos em que mesmo com a vigência da medida protetiva, o autor continua perseguindo aquela vítima, o autor continua impondo algum tipo de violência em relação àquela mulher. Então nesses casos é necessários que medidas extremas sejam adotadas. Então esses mecanismos são muito eficazes para esses casos excepcionais”.

Apesar de ser eficiente, o dispositivo utilizado pela polícia ainda depende do uso da internet para funcionar. O diferencial do Projeto Capitu, é justamente esse. Ele funciona via sinal de rádio e pode ser usado por qualquer pessoa, inclusive por quem não tem familiaridade com aparelhos tecnológicos.

Natália Canto – “Até que, uma viatura seja chamada e enviada até à casa se leva muito tempo. Numa situação dessas qualquer segundo é muito importante. Então se nós, com nosso dispositivo, nós tentamos fazer com que isso aconteça de forma cada vez mais rápida porque a partir do momento que ela aciona, ele já vai chamar a viatura mais próxima ao alcance desse sinal, então a viatura vai se locomover o mais rápido possível sem ter que esperar por alguma pessoa para controlar esse sistema etc. Além de que um dos nossos diferenciais é atender as classes mais baixas, visto que é onde ocorre a maior parte deste tipo de crime mesmo que isso não exclua os outros níveis sociais. Então a gente conseguiu fazer algo sem acesso à internet e que fosse tão eficiente quanto”.

Atualmente, o dispositivo Capitu, está em busca de patrocinadores. De acordo com a Natália, sem o patrocínio necessário para dar continuidade à pesquisa e aprimoramento da mesma, o máximo que elas podem fazer, é algo no nível acadêmico.

Matéria de Juan Mateus e Fabiana Silva.

Locução de Fabiana Silva.

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